JOÃO FRANCISCO LISBOA, o humanista.
Por Cristiane Lago*
Em 22 de março de 1812, no município maranhense de Pirapemas, nasceu João Francisco Lisboa, que foi jornalista, advogado, historiador e político.
Certamente, poucos homens serão lembrados após mais de 200 (duzentos) anos do seu nascimento e, pouquíssimos serão homenageados depois de exatos 209 (duzentos e nove) anos por feitos admiráveis e norteadores de comportamentos individual e social.
João Lisboa é o patrono da cadeira de número 18 da Academia Brasileira de Letras – ABL, da cadeira número 11 da Academia Maranhense de Letras – AML e da cadeira número 5 da Academia Ludovicense de Letras – ALL.
Recentemente, em 22 de janeiro de 2021, a Academia Maranhense de Cultura Jurídica, Social e Política – AMCJSP o designou patrono da cadeira de número 16, em mais uma homenagem de seus concidadãos, que compreendem sua importância para a literatura brasileira e, de forma especial, para o desenvolvimento social e político de um povo, que ainda pode aprender muito recorrendo aos escritos por ele deixados, tais como os textos do Jornal de Tímon, e atentando para seus bons exemplos de conduta, registrados no desempenho de funções importantes como jornalista, político e advogado.
O amigo e biógrafo de João Lisboa, o acadêmico Antônio Henriques Leal, na obra denominada “Notícia Acerca da Vida e Obras de João Francisco Lisboa”, apresenta informações sobre esse escritor brasileiro que tornam sua vida muito mais interessante e digna de outros estudos e publicações a respeito, e de mais homenagens, pois são raros os homens de “alma generosa e de forte têmpera”.
Referido biógrafo, retrata a figura de um profissional do qual carecemos muito nos dias atuais, como “advogado consciencioso, que nunca mercadejou os dotes com que Deus fora tão pródigo para com ele, e que bem de vezes ergueu a voz eloquente em prol do infortúnio perseguido que só tinha para remunerá-lo do trabalho as lágrimas da gratidão.” Destaca, ainda, que os escritos de Lisboa, por si só, refletem “o historiador imparcial, o filósofo de vistas largas e profundas, o publicista de subidos quilates, o moralista severo, que para aí derramou de grado e com franqueza os seus pensamentos e ideias, elevando-se no conceito de cidadão e escritor que tinha por farol – a pátria, por divisa – a verdade, por fim – moralizar seus conterrâneos, instruindo-os e admoestando-os como lição, e apregoando e exalçando as grandes virtudes e altos feitos como exemplo a seguir.”
Nessa obra biográfica, encontra-se, ainda, o esposo apaixonado da senhora Violante Luísa da Cunha, com quem se casou em 20 de novembro de 1834, e que somente a morte os separou, quando do falecimento de João Lisboa em 26 de abril de 1863, na cidade de Lisboa, em Portugal. A união do casal é relatada como “amor entranhável” que se confirma com a dedicação de Dona Violante aos cuidados com o marido nos dias mais difíceis e sofridos que antecederam sua morte. O casal não teve filhos e decidiu pela adoção de duas crianças que eram irmãs biológicas.
Os textos publicados no Jornal de Tímon consistiam em protestos contra a corrupção que imperava, contra a falta de ética dos políticos da época, críticas aos integrantes de uma sociedade egoísta e hipócrita que ocupavam os espaços de poder, como bem resumiu João Lisboa ao fazer um prospecto do Jornal, enfatizando que “o seu fim primário ficará sendo sempre a pintura de nossos costumes políticos; e como nesta terra a vida e atividade dos partidos se concentra principalmente nas eleições, transformando assim um simples meio em princípio e fim de todos os seus atos, as cenas eleitorais descritas sob todas as suas relações e pontos de vista imagináveis, encherão uma grande parte das páginas do jornal.”
Segundo Gonçalves Dias, seu contemporâneo e patrono da Academia Maranhense de Cultura Jurídica, Social e Política – AMCJSP, quando questionado sobre qual o seu parecer sobre Lisboa, respondeu: “acho que é excelente, que ele prima no epigrama, naquele dizer faceto, alegre, espirituoso, um pouco chasqueador, no qual se desmandava algumas vezes falando, mas na escrita irrepreensível. (…) Em suma, um prosador de finos quilates [..]
Os restos mortais de João Lisboa estão guardados na praça que recebeu o seu nome, no Centro Histórico de São Luís, onde uma estátua foi erguida em sua homenagem em 1º de janeiro de 1918.
Recentemente, essa Praça, tão importante para a história de São Luís, foi restaurada, exigindo de todos os devidos cuidados para sua manutenção, pois preserva a memória de um homem que como escritor e tribuno lutou pela importância e valorização dos bens públicos.
*Cristiane Gomes Coelho Maia Lago é Promotora de Justiça do MPMA e titular da cadeira número 16, da AMCJSP, cujo patrono é João Francisco Lisboa.