União Europeia – Uma visão mais ousada e abrangente depois do Brexit
Vítor Ramalho
O corte abrupto de gerações a que se assiste nesta envelhecida U.E., que não cuida da coesão intergeracional, e a fraca sageza na procura de políticas que equilibrem a defesa da soberania dos países com a integração na U.E., não são práticas recomendáveis. Até porque o desemprego muito elevado complementa o quadro de desânimo crescente.
A incerteza sobre o futuro é uma característica deste novo mundo, a que a União Europeia (U.E.) não escapa. O referendo no Reino Unido, a vitória em Turim e Roma das candidatas do movimento do comediante Beppe Grillo, o impasse do governo em Espanha, as tergiversações da U.E. sobre sanções a Portugal e Espanha, a regressão política na Hungria e Polónia, a ausência de políticas para os refugiados, o crescimento da extrema-direita num país como a França, são exemplos dessa incerteza.
O tempo que vivemos não está fácil.
Portugal, por exemplo, sente neste momento a tenaz, por um lado, por erros próprios, alguns muito graves, como se constata na banca, bem como na imprudente venda de todos os setores estratégicos, e por outro, por sérios constrangimentos externos, resultado da situação mundial.
É, porém, possível na U.E. superar-se a navegação à vista em que politicamente se vive, ousando-se cavalgar uma nova esperança que vá para além da navegação à bolina de curto prazo. Para o efeito, há que ter presente que o futuro dos países não deve ignorar a identidade, suportada na memória coletiva. Os resultados do recente referendo do Reino Unido são disso um bom exemplo, com os mais velhos a votarem maioritariamente na saída da U.E.
O corte abrupto de gerações a que se assiste nesta envelhecida U.E., que não cuida da coesão intergeracional, e a fraca sageza na procura de políticas que equilibrem a defesa da soberania dos países com a integração na U.E., não são práticas recomendáveis. Até porque o desemprego muito elevado complementa o quadro de desânimo crescente.
É preciso saber recriar-se na U.E. o sentido da marcha, sem que reinventemos a roda.
Neste mundo global e concretamente na U.E., a alternativa às políticas seguidas não se pode confinar à aposta tática na procura do exercício do poder pelo poder. Importa que o Estado reassuma as funções soberanas, com transparência, encorajando positivamente, pelo exemplo que dá, respostas mobilizadoras dos cidadãos. A psicologia coletiva e a confiança não são questões menores no quadro que se vive.
A U.E. tem que saber o que quer e para onde vai.
Não pode ser encarada, por isso, como uma plataforma supranacional, castradora de uma visão ousada que afeta a identidade dos países e incentiva ao corte de gerações.
Vítor Ramalho é secretário geral da UCCLA – União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa.