A poderosa Wonder Woman é a nova embaixadora da ONU e muita gente não está feliz com a escolha
A personagem criada pela DC Comics, em 1941, foi escolhida para se aproximar do público mais jovem na luta contra a discriminação de género. A cerimónia em que foi oficializada foi marcada por um protesto e já corre on-line uma petição contra a escolha.
A Wonder Woman foi oficializada como embaixadora da ONU para o empoderamento feminino. Mas qual Wonder Woman? Lynda Carter, 65 anos, a actriz americana que a interpretou na série televisiva dos anos 1970? Gal Gadot, a israelita de 31 anos que a encarnará no filme a estrear em Junho de 2017? Nem uma, nem outra. Quem a ONU nomeou foi mesmo Wonder Woman, personagem nascida nos comics há sete décadas (Criada em 1941 pela DC Comics a Wonder Woman, tal como tantos outros super-heróis tornou-se também personagem de cinema e televisão).
A escolha foi justificada como uma tentativa de a organização se aproximar do público mais jovem para, através da personagem, o atrair para a luta pela igualdade de género, um dos 17 objectivos para um mundo sustentável que a ONU pretende atingir até 2030. A decisão, oficializada esta sexta-feira, gerou protestos internos e uma petição online em que se exige que a escolha seja reconsiderada.
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“Não preciso de vos explicar que a Wonder Woman é um ícone”, afirmou Cristina Gallach, presente na cerimónia de apresentação da nova embaixadora em representação do ainda secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, que será substituído no cargo no próximo ano por António Guterres. “Ela é conhecida por representar justiça, paz e igualdade e estamos muito felizes por esta personagem nos ajudar a chegar a novos públicos com mensagens essenciais sobre empoderamento e igualdade”. Parte da assistência na sessão, a que vestia t-shirts da Wonder Woman distribuídas para a ocasião, concordará com Gallach. Tal como concordarão as convidadas Lynda Carter e Gal Gadot. A oposição à escolha, porém, manifestou um silêncio ruidoso. Membros do staff das Nações Unidas, homens e mulheres, viraram costas à cerimónia e ergueram o punho em protesto.
No exterior, sob anonimato, alguns dos manifestantes explicaram aoGuardian as razões do protesto. “Para algo desta importância, precisamos de uma mulher ou de um homem que possa falar, alguém que possa viajar, alguém que possa promover estes direitos, alguém que seja capaz de ter uma opinião, que possa ser entrevistado, alguém que possa erguer-se perante os 192 estados-membros e dizer-lhes o que acha que eles deveriam fazer”. No exterior do auditório onde decorreu a cerimónia, cerca de 100 manifestantes, segundo a CBS News, ergueram cartazes com frases como “Não sou uma mascote” ou “Mulheres verdadeiras merecem uma embaixadora verdadeira”.
On-line corre já uma petição que conta neste momento com mais de 1700 signatários. Nela manifesta-se desilusão com a escolha de uma personagem fictícia que representa “uma mulher branca de proporções impossíveis, escassamente vestida com um fato brilhante, de coxas desnudadas e motivo da bandeira americana e botas de cano alto – a epítome da pin-up". Os subscritores consideram “alarmante” que as Nações Unidas tenham considerado “usar uma personagem com uma imagem manifestamente sexualizada num momento em que a objectificação de mulheres e raparigas é destaque nas notícias nos Estados Unidos e no resto do mundo”.
Um porta-voz das Nações Unidas, Stéphane Dujarric afirmou quinta-feira, citado pelo New York Times, que os líderes da organização tiveram em conta as reclamações e que alteraram a campanha pública delineada em volta da nova embaixadora, de forma a que se esta seja “uma celebração das mulheres e raparigas reais que fazem a diferença todos os dias” em relação às mensagens-chave, que passam pela luta contra a discriminação e violência de género ou pela exigência de igualdade de oportunidades em todos os aspectos da vida, incluindo o trabalho e a educação.
A Wonder Woman (que chegou a Portugal enquanto Super-Mulher) foi criada pela DC Comics no final de 1941, quatro anos antes da fundação da ONU. Não é a primeira personagem ficcional a tornar-se embaixadora da ONU. O Ursinho Puff foi Embaixador Honorário da Amizade em 1998 e, 11 anos depois, a fada Sininho assumiu funções enquanto Embaixadora Honorária do Ambiente.