A educação seria o grande vetor de libertação da pobreza mas, como é notório, a precariedade do ensino no Brasil reduz a possibilidade de ascensão social…
Por Sergio Tamer.
Professor e advogado, é presidente do Centro de Estudos Constitucionais e de Gestão Pública – CECGP
A explicação para o Brasil ser um país economicamente moderno, mas socialmente atrasado, mais uma vez tem a sua origem na educação precarizada que é dada à população mais desassistida. Conforme o novo Atlas da Mobilidade Social, do IMDS (Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social), plataforma de acompanhamento de políticas públicas com foco na ascensão social, a probabilidade de uma criança brasileira que faz parte da metade mais pobre ter ascensão social capaz de colocá-la entre os 10% mais ricos quando adulta é menor do que 2%. E mais: dois terços delas muito provavelmente permanecerão entre os 50% mais pobres na vida adulta, e apenas 10,8% subirão ao patamar dos 25% mais ricos. Menos de 2% também conseguirão terminar uma faculdade, e o mais provável é que a metade chegue ao fim do ensino médio. Em resumo, menos de 2% das crianças pobres no Brasil atingem a renda dos mais ricos e, apesar das ofertas educacionais, 2/3 dos 50% mais pobres continuam iguais aos pais.
Não precisa dizer que esses dados apontam para uma baixa mobilidade social no Brasil, o que leva o país a manter altas taxas de pobreza e uma profusão bilionária de programas assistencialistas, a exemplo do Bolsa Família, com R$ 158 bilhões de inversão em 2025. A educação seria o grande vetor de libertação da pobreza mas, como é notório, a precariedade do ensino no Brasil reduz a possibilidade de ascensão social.
Em pesquisas recentes, foram calculadas as parcelas de jovens que não têm as habilidades básicas para o trabalho em 159 países. No caso brasileiro, revelou-se que 66% dos jovens não atingem o básico para o mundo do trabalho. Isto significa que 2/3 não têm o mínimo para obterem chance de sucesso na vida, especialmente nesta fase atual de grande avanço tecnológico. O estudo mostrou ainda que a situação brasileira é similar à da América Latina, com exceção do Chile (44%). Nos países europeus, porém, apenas 20% dos jovens não atingem as habilidades básicas para o mercado de trabalho. Especialistas indicam que uma série de fatores contribui para precarização do ensino, mas afirmam que pelo menos dois deles são mais expressivos: “os problemas na formação básica dos professores, que acabam progredindo nas carreiras sem cursos de gestão; e o fato de as 5.570 prefeituras do país poderem fazer o que bem entender na educação básica dos alunos até a quinta série.”
Sendo a educação um dos principais fatores que podem romper o ciclo da pobreza, abrindo oportunidades para o desenvolvimento e a ascensão social, a sua precarização compromete esse processo passando apenas uma falsa sensação de inclusão. A pobreza intergeracional vai, assim, sendo transmitida de uma geração para a seguinte, e os indivíduos que cresceram em famílias pobres, também se tornam pobres na idade adulta. A falta de acesso à educação, saúde e oportunidades, são passados de pais para filhos, criando um ciclo de pobreza, ou uma cultura da pobreza, uma espécie de armadilha que aprisiona uma significativa parcela da população brasileira e de modo especial a do Maranhão. Este círculo vicioso ainda não conseguiu ser rompido pelo Estado brasileiro que gasta mal em programas assistencialistas bilionários, cujos resultados não tiveram até aqui, como demonstram as pesquisas, o resultado anunciado.
Entre a corrupção e a incompetência de gestão, o que custa mais para o povo brasileiro? Pode-se afirmar que ambas são nefastas e abomináveis, mas quase sempre a gestão ineficiente, as decisões erradas, causam danos sempre muito maiores e geralmente não há responsabilização por esses desacertos políticos e administrativos. Nossos gestores nas três esferas de poder ainda estão a dever à sociedade brasileira uma solução eficaz para o setor educacional que seja capaz de romper com o ciclo da pobreza e colocar o Brasil, como se espera há décadas, entre as nações socialmente avançadas e modernas.
Menos populismo e mais gestão eficiente, talvez já fosse um bom caminho…