O desabafo de Sergio Tamer na sua saída do PR
por Jorge Aragão
05 ago 2012
O Blog teve acesso ao comunicado de desfiliação do secretário de Justiça e Administração Penitenciária do Maranhão, advogado Sergio Tamer, expresidente nacional e regional do Partido da República (PR). A carta, muito bem redigida, é uma espécie de desabafo e uma lição de moral a quem comanda o partido hoje. O documento, onde Tamer informa os motivos que o levaram a deixar a legenda, foi encaminhado ao atual presidente Nacional do PR, senador Alfredo Nascimento. O Blog publica abaixo, com exclusividade, na íntegra o comunicado de desfiliação.
É com grande dissabor que comunico a minha desfiliação do partido que ajudei a fundar, no Maranhão, em 1986, sob a inspiração de Álvaro Valle, e que mais tarde viria a ser a base do Partido da República, que também ajudei a organizar, em 2006, desta feita com Enéas Carneiro e um punhado de companheiros da antiga e nova legenda.
Supunha que as praticas políticas que foram se aprofundando no interior da agremiação após a morte de Álvaro Valle, seriam todas escoimadas com a esperança que contagiou nossos filiados quando da criação do PR. Mas a realidade foi se impondo e acabou por revelar uma antiga e dura verdade: não se mudam práticas arraigadas apenas trocando a roupagem.
Desprezando aqui os fatos que são notórios e, portanto, de domínio público, para os quais devemos conceder o benefício da dúvida por estarem sub judice –, entendo que o PR errou de forma drástica ao valorizar excessivamente as articulações voltadas para o aumento quantitativo de membros na bancada federal, abandonando, assim, as demais ações e instâncias partidárias. Essa política interna que tinha por propósito último obter mais tempo de televisão; mais recursos do fundo partidário; e mais poder de influência – nas votações da Câmara e nos gabinetes do Executivo –, acabou mostrando-se ruinosa para o novo partido, da mesma forma como vinha ocorrendo com o antigo, por conta de seu artificialismo.
Quando essa conquista se dá por um processo de crescimento eleitoral, ideológico ou doutrinário, a partir da base municipal e estadual, objetivando a conquista do poder, ela é legítima e desejável. Mas quando ela é um fim em si mesmo esse crescimento resulta em um inchaço meramente fisiológico. Esse erro já foi registrado em muitos partidos e a realidade mostrou que ao faltarem as condições materiais de sustentação dessa estrutura fisiológica, ela tende a ruir com mais facilidade que a primeira, assentada em uma sólida base doutrinária. O PR, dessa forma, perdeu o prumo ao confundir a força de um partido conceitual, que pode ter poucos parlamentares, mas identificados com o seu programa e, portanto, influentes politicamente –, com a força de um partido simplesmente grande e disforme que acaba por auferir baixa reputação.
Ora, assim procedendo, o PR abandonou o conteúdo de seu manifesto e, sabem-se agora pelas evidencias, jamais teve o propósito de dar-lhe consistência e valor. Do ponto de vista da prática doutrinária, esvaziou-se por inteiro e passou a existir somente pelo seu invólucro, destituído de conteúdo. É como se fora uma garrafa vazia. Programas de televisão, manuais de militância, cursos de formação – nada disso tem qualquer significado político se o comando partidário e as ações parlamentares não lhes derem consequência, coerência e sustentação de longo prazo. É mil vezes sabido que a sociedade não se deixa enganar todo o tempo por ações meramente marqueteiras.
Sublinhe-se, além disso, que a concentração excessiva de poder em uma ou duas pessoas, mediante a montagem de uma bem engendrada engrenagem jurídica, tornou o PR um partido de cunho pessoal, e também por isso, antidemocrático, o que vem impossibilitando, em nível de diretório nacional, o livre debate de ideias e opiniões. Ser “dono do partido”, neste caso, não é uma questão de metáfora para realçar uma liderança forte, mas somente uma indesejável realidade jurídico-política.
Fui vencido em todas essas questões. Forças tenebrosas me derrotaram. O PR mudou seus rumos e não honra mais os ideais de Álvaro Valle e de seus fundadores. Por isso não gostaria de estar, como disse certa vez Darci Ribeiro, no lugar dos vencedores.
Não me sinto, dessa forma, em condições de continuar arrostando uma filiação que já não representa para mim o verdadeiro sentido de vivenciar, no partido, uma ação democrática, sobretudo no campo do liberalismo social. Dessa forma manifesto o meu total desprezo e a minha fidedigna repulsa aos que me venceram.
Tenho, como é natural, muitos amigos na agremiação, alguns dos quais candidatos nestas eleições. A todos eles continuarei dedicando minha sincera amizade.
Assim, expresso o meu afastamento definitivo do partido e a minha consequente desfiliação partidária.
Atenciosamente,
Sergio Victor Tamer
Ex-presidente do Diretório Nacional.
Ex-presidente da Comissão Provisória do Maranhão.