Hoje às 20h30min no auditório do Centro de Ciências Sociais da UFMA, será lançado o livro “Ignácio Rangel, Decifrador do Brasil”, reunindo trabalhos de respeitados autores sobre o pensador maranhense, cujo centenário de nascimento comemoramos. Precedendo o lançamento, Mesa Redonda com a participação de Joaquim Itapary, Raimundo Palhano e Rossini Corrêa, conduzirá reflexões sobre a obra do economista que ousou criar novas categorias para interpretar o país e alterar os seus rumos na direção da democracia com justiça social. Tive a honra de prefaciar o livro comemorativo dos cem anos do bravo sertanejo, homem honrado e intelectual autêntico, nascido em Mirador, conterrâneo de minha mãe. Ocupou cargos públicos com elevado espírito de servir, jamais de servir-se, como é comum nestes dias de corrupção endêmica.
Atualmente, é larga a produção editorial de livros, de revistas de História, de biografias, atestando o crescente interesse dos brasileiros pelo passado, como forma inteligente de compreender e iluminar o presente. Os 25 anos de promulgação da Constituição Federal de 1988, mereceram seminários, simpósios, realizados em todo o território nacional para elucidar o contexto da sua elaboração e os condicionamentos que a envolveram.
Dia 10 de abril próximo, no auditório de “O Imparcial”, o CECGP, dirigido por Sérgio Tamer, em parceria com o jornal possuidor da tradição de realização de debates públicos, estará acontecendo o Seminário: “A Operação civil-militar de 1964, o contexto maranhense”. Pelo título, o movimento será abordado em espectro amplo, examinando a conjunção dos interesses da sociedade civil, e mais, as suas consequências no plano estadual. Por exemplo, não fora 64, como seria hoje o cenário político maranhense? As respostas variarão na conformidade das interpretações. Historiadores, juristas, cientistas sociais farão a sua leitura do evento histórico.
Como se vê, a lente da História se faz presente em todas essas inciativas, como a indicar o grau de conscientização da importância da historiografia para entender claramente os fatos sociais e políticos vigentes em nossa sociedade, como, aliás, fazem todas as culturas desenvolvidas.
Os gregos da antiguidade clássica desenvolveram a Filosofia, a História¸ esta última é mãe e mestra de todas as ciências de então. E é inegável, uma não existiria sem a outra. A distância ajuda muito a compreensão de determinado fato histórico, das condicionantes econômicas e políticas que o envolveram , incluindo o “espirito da época”. Nos estudos do Brasil, muito devemos a um grupo de historiadores estrangeiros, chamados de brasilianistas. Entre eles destacam-se Ralph Della Cava, que veio estudar o messianismo do Padre Cícero, e em seguida voltou as atenções para as violações dos Direitos Humanos pós-64. Kenneth Maxwell pesquisou a Inconfidência Mineira, publicando o trabalho “A Devassa da Devassa”, uma releitura de Tiradentes e do processo a que foi submetido pela Justiça colonial. Thomas Skidmore investigou a participação dos militares na política e a questão racial, resultando nos livros “Preto no Branco” e “De Getúlio a Castelo”. Professor em Harvard, atualmente aposentado, em entrevista ao jornal “Folha de São Paulo”, relatou que o então embaixador dos Estados Unidos, Lincoln Gordon, lhe confidenciou, com antecedência, a eclosão do golpe militar de 64. A mais alentada biografia de Carlos Lacerda, completando cem anos de nascimento no próximo mês, é da lavra de John W. Foster Dulles, filho do ex-Secretário Estado dos Estados Unidos, do mesmo nome.
Finalmente, convém mencionar a pesquisadora Phyllis R. Parker, que revolveu os arquivos da Casa Branca, a Biblioteca Presidencial de Lyndon Johnson, em Austin, no Texas; e a da John Kennedy, em Boston, Massachussetts; para revelar o envolvimento dos dois governos nos episódios de março de 64. Ao contrário do imaginado, a partir da mitificação de Kennedy, sua participação na intervenção foi grande, e sua continuação na presidência não teria evitado o desfecho.
Phyllis publicou o livro “1964: o papel dos Estados Unidos no golpe de Estado de 31 de março”, com documentos comprobatórios da atuação de Lincoln Gordon e do adido militar norte-americano, Vernon Walters, na conspiração e nos episódios que se seguiram, incluindo a operação “Brother Sam”, prevendo a intervenção militar norte-americana.
O clima daqueles dias de Guerra Fria e do iminente conflito entre Estados Unidos e União Soviética, a questão cubana, acirrava os ânimos. O país era e continua sendo estratégico, daí, o interesse dos brasilianistas em estudá-lo.
Antes deles, Gilberto Freire, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, Nelson Werneck Sodré, Celso Furtado, Ignácio Rangel, vinham tentando decifrá-lo, para que ele se conhecesse, e crescesse de forma mais harmônica e justa. A eles, e especialmente a Rangel, o tributo do nosso reconhecimento.