“Era um educador por excelência, um semeador de universidades…”
João Batista Ericeira, professor e advogado,
foi Chefe do Departamento de Direito da UFMA nos anos 80.
Após receber a notícia do falecimento do professor José Maria Cabral Marques
acorreu-me os fluxos de memória que registro nestas breves anotações.
O conheci frequentando a casa do meu tio, Cônego Antônio Bonfim, então Diretor da Faculdade de Filosofia e um dos batalhadores pela criação da Universidade Federal do Maranhão. Era um adolescente, e percebia que, aluno do meu tio, e monitor na disciplina Pedagogia, Cabral apostava na carreira docente, ainda que funcionário da Previdência- IAPI. Bonfim o incentivava, inclusive indicando-o para uma bolsa de estudos na Alemanha. Seu vice-diretor era o Professor José Maria Ramos Martins, que viria a ser reitor da UFMA, antecedendo Cabral.
Em seguida, a partir de 1966, José Maria Cabral Marques exerceria cargos no governo estadual, na gestão de José Sarney: secretário de Administração, da Educação. Nesta pasta se destacou pela inciativa de projetos inovadores como as “Escolas João de Barro” e a TV Educativa. No ensino superior criou a Escola de Administração, as escolas de engenharia, civil, agronomia e medicina veterinária, depois agrupadas na Federação das Escolas Superiores do Estado, depois UEMA.
Volto a reencontrá-lo em 1979, dois anos antes havia prestado concurso para Auxiliar de Ensino do Departamento de Direito, cargo inicial da carreira docente e me afastado para o mestrado na Universidade de Brasília. Recém-chegado no mês em que Cabral assumira a Reitoria, dele recebi o convite para assumir “pro-tempore” a Chefia do Departamento. Alegou para tanto a amizade que tinha por meu tio e a confiança em mim depositada.
Argumentei ser muito jovem e precisar do respaldo dos integrantes do órgão acadêmico, além do prazo para a apresentação da minha dissertação de mestrado. Pedi-lhe tempo para fazer consultas, dentre elas, a de Agostinho Marques e José Maria Ramos Martins, este último também um discípulo de Bonfim.
Recebi o apoio do Colegiado e em especial de Agostinho Marques e José Maria Ramos Martins que foram trabalhar comigo no Departamento de Direito. Em um ano e meio desenvolvemos o ousado “Programa de Estudos Avançados em Ciências Jurídicas”, reformulando a graduação, instituindo a pós-graduação, a pesquisa, como consta do livro “Uma História sobre o Discurso Jurídico Crítico no Maranhão”, de Renata Cordeiro Barros, publicado pela Edufma em 2015.
Devendo-se salientar o apoio do Reitor José Maria Cabral Marques a esse trabalho inovador, como foi em tantos outros aspectos da vida acadêmica, dentre elas, a extensão, as relações internacionais e a interiorização dos campi universitários.
Infatigável, após a aposentadoria na vida pública, encetou outros projetos no ensino à distância e a criação da Universidade CEUMA. Era um educador por excelência, um semeador de universidades.
Dele se pode dizer em coerência a sua fé católica: travou o bom combate e manteve a fé.