“Colander diz que a confusão decorre da perda da “metodologia do liberalismo clássico dos economistas do século XIX, como John Stuart Mill e Alfred Marshall”; lembro da valorização desses pensadores da história feita no meu livro “Desafios/Challenges”, editado pela EDUFMA e lançado em 2015…”
Esther Dufio, uma das premiadas com o Nobel do ano passado, “é a mais jovem vencedora em seu campo na história – e apenas a segunda mulher.” Despertou para a economia quando, na Rússia, viu Jeffrey Sachs dando conselhos econômicos aos políticos. (Revista ‘Eu & Fim de Semana, encarte do jornal Valor, de 13/12/2019).
Ela pesquisou sobre os motivos comportamentais das pessoas em países pobres; acredita que podem servir de exemplos importantes para os governos em países ricos e entende que os economistas deveriam ter um maior protagonismo a respeito desse assunto.
Seu novo livro “Como os melhores economistas da atualidade pensam sobre o mundo”, escrito com o professor Abhijit Banerjee (outro ganhador do Nobel, seu esposo e colega no MIT), explica: “… por que a maioria das pessoas pobres não migram, mesmo quando tem a opção ou por que programas de bem-estar fracassam, quando não levam em conta o sentido de identidade das pessoas.”
Esther acredita “que a fé excessiva em incentivos financeiros é um dos principais pontos errados na tendência predominante dos economistas”, fazendo lembrar dos nossos programas sociais, sem uma porta-de-saída e gerando fraudes e inadimplências; mesmo assim, ela dá um conselho que, apesar de todas as falhas, a classe têm muito a contribuir no mundo em desenvolvimento.
André Lara Resende, por sua vez, acaba de publicar o “Consenso e Contrassenso” e fala sobre o livro na entrevista publicada na Revista ‘Eu & Fim de Semana’, encarte do jornal Valor, de 07/02/2020: “As armadilhas do dogmatismo”. Até então, ele tem publicado diversos artigos sobre a nova macroeconomia e a chamada Teoria Monetária Moderna – TMM, em que seu entendimento sobre a “… natureza da moeda e o peso da dívida pública vão na contramão das teorias mais tradicionais.”
Lara Resende insiste na tese de que um Estado que emite sua moeda fiduciária e se endivida não tem nenhuma restrição financeira, diferente do que acontecia quando a moeda era lastreada, pois sujeita a estoques de metal precioso, de preferência o ouro; reconhece, entretanto, que ter certa disciplina fiscal será, sempre, desejável.
Investimentos em infraestrutura, saúde, saneamento, educação, segurança, por exemplo, nos tempos em que o Brasil sofre com a ociosidade de sua indústria, alto nível de desemprego, etc., enxerga a imperiosa necessidade de gastos públicos e diz: “despertaria confiança nos agentes econômicos e atrairia capitais.”
Insiste em que esses investimentos deveriam ser reservados àqueles setores prioritários, assegurados bons projetos e retornos, embora, reconhece, há o risco de o Estado não conseguir essa eficiência e eficácia. Certamente, se assim fosse, o governo federal teria que flexibilizar o atual teto de gastos, como já está fazendo.
Por conta dos seus argumentos, critica a Teoria Quantitativa da Moeda – TQM, da escola de Chicago dos tempos de Milton Friedman, que estaria ‘sepultada’, e a Base Monetária – BM, pois os bancos centrais, hoje, controlariam apenas a taxa de juros.
Ele argumenta que, a prova disso, é que o afrouxamento monetário praticado pelos principais bancos centrais do mundo, à frente o Federal Reserve – FED, dos Estados Unidos, quando da crise das hipotecas, em 2008, não causou inflação; também argumenta que a visão dos economistas do ‘mainstream’ é fiscalista e isso não vai ajudar no despertar da confiança dos investidores de que o Brasil está precisando; diz que a macroeconomia “está construída sobre bases equivocadas.”
Assim sendo, essa tese, se procedente, antes precisaria ser chancelada pela Academia, para ser considerada pelos mercados e principalmente pelas Universidades, que continuam ensinando a teoria tradicional, e entre falhas e dogmatismo dos economistas, há quem entenda existir também uma tremenda confusão. O historiador David Colander, professor do Middlebury College, em Vermont (USA), deu uma entrevista à Revista ‘Eu & Fim de Semana”, encarte do jornal Valor, de 14/02/2020.
Ele publicou o livro “Onde a economia foi mal: Chicago Abandona o liberalismo clássico”, em parceria com o empresário Craig Freedman, falando da “emergência de um pensamento econômico voltado para a intervenção no debate público”, que começou desde a chamada economia do bem-estar, com Arthur Pigou e Abba Lerner, até a versão monetarista da Universidade de Chicago, nos anos 1960 e 1970, com Milton Friedman e George Stigler.
Colander diz que a confusão decorre da perda da “metodologia do liberalismo clássico dos economistas do século XIX, como John Stuart Mill e Alfred Marshall”; lembro da valorização desses pensadores da história feita no meu livro “Desafios/Challenges”, editado pela EDUFMA e lançado em 2015.
Ele é também autor de um “Manual de economia para estudantes de graduação e do livro “A formação do Economista”, com o objetivo de entender como esses estudantes são preparados ao mercado de trabalho, pensando no avanço da chamada ‘economia da complexidade’.
A propósito, a partir dessas ideias – também as de Lara Resende -, da nova macroeconomia e da Teoria Monetária Moderna, tenho escrito, feito palestras e insistido para que as Universidades promovam pesquisas acadêmicas a respeito e, se chanceladas pela Academia, façam as devidas alterações nos programas de ensino das disciplinas pertinentes.
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* A economia da complexidade é um novo paradigma dentro da teoria econômica que vê a economia como um sistema adaptativo complexo, composto de múltiplas interações de agentes diversos através de redes e evolução ao longo do tempo.
**Economista e professor universitário. Membro Honorário da ALL e da ACL. Filiado à IWA e ao Movimento ELOS Literários.