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Centro de Estudos Constitucionais e de Gestão Pública

A Magia da Academia – por João Batista Ericeira

Não sabíamos é que por esse meio a solenidade se revestisse de tamanho brilho, tanto que um dos fundadores, o professor Raimundo Palhano sintetizou o encanto poético da noite com a expressão: “foi mágico”…

 

 João Batista Ericeira, professor e advogado, presidente da AMCJSP

 

      O Maranhão é berço de múltiplas tradições, a sua capital, São Luís, recebeu a nomeação de Atenas brasileira, explicando assim a tamanha atração pelas academias. Foi na velha Atenas que Platão fundou a primeira, reproduzida em todo o Ocidente.

     A Academia Maranhense de Cultura Jurídica Social e Política-AMCJSP, se associa às suas congêneres no esforço de buscar as nossas raízes, não apenas no campo do beletrista, mas em todas as formas de manifestações culturais vivas e reais do nosso povo.

      Sexta-feira passada, dia 22 de janeiro, instalou-se solenemente a AMCJSP com o empossamento de seus membros. Era impossível fazê-lo fisicamente face ao recrudescimento da pandemia, optou-se pela forma digital através das plataformas das redes sociais. Não sabíamos é que por esse meio a solenidade se revestisse de tamanho brilho, tanto que um dos fundadores, o professor Raimundo Palhano sintetizou o encanto poético da noite com a expressão: “foi mágico”. O professor Sergio Tamer, vice-presidente da entidade procedeu a leitura da ata de fundação, ato contínuo, a Presidência declarou empossados os confrades e confreiras, lendo nominalmente as suas cadeiras com os respectivos patronos. Em seguida, a confreira Cristiane Lago declamou o poema “Canção do Tamoio”, de Antônio Gonçalves Dias. Em continuidade, um dos decanos do sodalício, confrade Antônio Augusto Ribeiro Brandão, proferiu erudita exposição sobre as origens históricas e os propósitos das academias em nossa civilização, e em especial, os da que acabara de se instalar formalmente. Logo após, um dos seus idealizadores e fundadores, confrade Rossini Corrêa, proferiu oração em homenagem ao patrono Antônio Gonçalves Dias, evidenciando com a competência de sempre, ângulos da trajetória ainda pouco desvendados pelos que estudam sua vida e obra.

       Por fim, usei da palavra para destacar os nossos objetivos, de todos os empossados, de criar espaço de reflexão, para realização de pesquisas, a produção de trabalhos, aptos a contribuir para o desenvolvimento do Maranhão, sem perder de vista a inserção no contexto nacional e no internacional. Tudo a partir do entendimento de que o fenômeno jurídico só pode ser bem compreendido nas interações sociológicas, antropológicas e políticas. Expressou-se que não se trata de instituição unicamente de letras jurídicas, mas de estudos em todas as áreas do social. Investida da intenção institucional de cooperar com as academias existentes, revestida de ânimo colaborativo, despida de qualquer espírito emulativo, até porque muitos dos seus membros integram entidades congêneres. O desejo é somar sempre em benefício do bem comum, como diria o teólogo Tomás de Aquino.

       Nas comemorações do Centenário da Faculdade de Direito, em 2018, nas referências ao grupo de fundadores, liderados por Fran Paxeco e Domingos Perdigão, era sempre destacado o fato de que a sua criação se dera no bojo de movimento pretendendo reforçar os valores da cultura maranhense. O jurídico, como dizia Sálvio Dino, na nossa Salamanca da Rua do Sol, estava sempre acompanhado das letras e das artes. E ninguém melhor para expressar essa junção do que Gonçalves Dias. Explicando-se por que a publicação dos anais, coordenada por Rossini Corrêa, é margeada por citações de sua obra. Delas participaram intensamente Sergio Tamer, Raimundo Palhano, Jhonatan Almada. Na sessão de enceramento, no auditório da Associação Comercial, Sálvio proferiu inexcedível oração. Foi esse o grupo que começou a idealizar a Academia, juntando-se aos confrades e confreiras empossados. A poética de Gonçalves Dias envolve e sobrevive no romantismo nacional. A partir de sua prosa e dramaturgia, dá-se o “Grito do Ipiranga” das letras nacionais, cria-se um modo de escrever poesia e prosa independente de Portugal.

      Há ainda o etnólogo e antropólogo para desvendar, mas a magia daquela noite, se deve em parte, a sua poesia.