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Notícia

Centro de Estudos Constitucionais e de Gestão Pública

CAUSAS E EFEITOS DA CRISE DAS HIPOTECAS, por Antônio Augusto Ribeiro Brandão

Nesse caso entendo que temos, como sempre aconteceu na evolução da história do pensamento econômico com Adam Smith (1723-1790), David Ricardo (1772-1823), John Stuart Mill (1806-1873) e Milton Friedman (1912-2006), problemas de discordâncias conceituais e de práticas de políticas orçamentárias, monetárias e fiscais, principalmente na presente conjuntura em que o pensamento liberal volta com toda força…

*Antônio Augusto Ribeiro Brandão

A palestra intitulada “Desafios à Teoria Econômica”, que fiz quando do lançamento do meu livro “Economia–Textos Selecionados”, na Livraria AMEI, em 19 de novembro de 2019, versou sobre a crise das hipotecas ou da ‘bolha’ ocorrida a partir 2008, nos Estados Unidos, causa das práticas de política monetária heterodoxa adotadas pelo FED, o banco central americano, seguidas pelo banco central europeu e de outros países desenvolvidos, e seus efeitos práticos e colaterais, uns positivos e outros, danosos.

Acontece que essa crise, que foi causa da ‘financeirização da economia através do ‘quantitative easing’, afrouxamento monetário ou auxílio à liquidez, foi também efeito decorrido, entre outros, da falta de uma regulamentação eficiente e eficaz do sistema financeiro americano, como mostra Jean Tirole, Prêmio Nobel de Economia, em 2014, em seu livro “Economia do bem comum”, capítulo 12, “A crise financeira de 2008.”

Ele diz, entre várias citações: “ninguém, inclusive entre os economistas, imaginara que setores inteiros do sistema bancário seriam resgatados pelos Estados; que os cinco maiores bancos de investimento desapareceriam.”

O Lehman Brothers, considerado entre os ‘grandes demais para quebrar’, quebrou e foi o principal deles. Quando visitei suas instalações, em Nova York, em 1980, na companhia de executivos do mercado financeiro brasileiro, fomos apresentados a uma estrutura pujante do capitalismo americano.

Sobre a crise financeira, Tirole diz: “uma única certeza, a crise é um caso exemplar para os cursos de teoria da informação e de incentivos ensinados nas faculdades de economia.”

A propósito, tenho insistido: essas crises admitem pesquisa acadêmica e debates na definição de possíveis mudanças no conteúdo programático da teoria econômica ensinada nas Universidades.

Tirole admite que “a manutenção pelo Banco Central Americano (o Federal Reserve) de taxas de juros anormalmente baixas durante vários anos, no início dos anos 2000, forneceu uma liquidez muito barata”, o que teria alimentado a bolha imobiliária.

Aliás, tenho explicado que essa prática de taxas de juros muito baixas – que favorece a transferência de recursos de poupadores para o sistema financeiro – reflete a chamada “preferência pela liquidez”, já referida anteriormente por John Maynard Keynes (1883-1946), que ocorre quando os detentores de recursos preferem receber menos, mas estarem garantidos.

Sobre aspectos de regulação do sistema financeiro americano, em aprimoramento, Tirole emite o seguinte juízo de valor: “as instituições financeiras reguladas (bancos comerciais, companhias de seguros são submetidas a requisitos de um nível mínimo de fundos próprios.”

O que ocorreu na realidade foi que, face a uma supervisão falha, esses bancos alavancaram além dos seus ativos; “instituições financeiras exploraram as falhas da análise de risco nas regras prudenciais” e, ainda segundo Tirole, encimando parte importante do capítulo 12, “contornos da esfera regulada excessivamente vagos e uma mistura às vezes deletéria entre público e privado.”

Finalmente, nesse capítulo 12 do seu Livro, Tirole pergunta: “de quem é a culpa? E segue: “os economistas foram muito criticados por não terem previsto a crise, até mesmo de serem os responsáveis.”

Escrevi e publiquei um artigo intitulado “Falhas, dogmatismo e confusão dos economistas” (O Imparcial, dia 13/05/2020), inspirado em Esther Dufio, uma das ganhadoras do Prêmio Nobel de Economia, em 2009, que escreveu o livro “Como os melhores economistas da atualidade pensam sobre o mundo.”

Nesse caso entendo que temos, como sempre aconteceu na evolução da história do pensamento econômico com Adam Smith (1723-1790), David Ricardo (1772-1823), John Stuart Mill (1806-1873) e Milton Friedman (1912-2006), problemas de discordâncias conceituais e de práticas de políticas orçamentárias, monetárias e fiscais, principalmente na presente conjuntura em que o pensamento liberal volta com toda força (ver matéria “O Liberalismo em transição”, revista Exame, edição de 27/05/2020, nº 10), e as ideias heterodoxas de André Lara Resende, sobre a ‘nova’ macroeconomia’ e sua teoria monetária moderna, despertam intensa discussão.

Essas e outras considerações, com atualização dos números, farão parte da minha próxima palestra a respeito das causas e efeitos das crises referidas.

*Economista. Membro Honorário da ALL e da ACL. Filiado à IWA e ao Movimento ELOS Literários.