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Notícia

Centro de Estudos Constitucionais e de Gestão Pública

Exército, uma grande escola de civismo – por Antônio Augusto Ribeiro Brandão

Duque de Caxias (Luís Alves de Lima e Silva) (1803-1880) – Patrono do Exército brasileiro.
MINHAS HOMENAGENS PELO ‘DIA DO SOLDADO!
Por Antônio Augusto Ribeiro Brandão
Corria o ano de 1953. Naquele tempo, conciliar a obrigação de prestar o serviço militar com a oportunidade de fazer o Vestibular era um dilema muito sério.
Todos pensavam em “perder” dez meses, no mínimo, no cumprimento da obrigação com o Exército e, por consequência, adiar o ingresso na Faculdade; restava a esperança de ser dispensado, conforme a sorte de cada um.
Acontece que o nosso querido Doutor Marcelo Tadeu de Assunção – que já havia sido meu professor de Latim, nos idos de 1946/48, no Ginásio Caxiense -, então médico responsável pelos exames de aptidão física, não brincava em serviço. E aí só restava encarar o Sargento Instrutor, rezar para que ele não fosse durão e para que o tempo passasse depressa.
Tudo começou no mês de março daquele ano, no Tiro de Guerra 194. O Instrutor era o Sargento Zerlino Prado de Sousa (ou Souza), paraibano, então em plagas caxienses, por conta da movimentação dos militares.
Um grande pessoa: ao mesmo tempo rígido e disciplinador quando a situação assim o exigia, mas terno e compreensivo ao reconhecer os esforços que desenvolvíamos.
Havia, também, o Tenente Aluízio de Abreu Lobo, Diretor do TG, muito mais rígido e menos terno, mais linha dura quando substituía o Sargento Zerlino, nas suas ausências e impedimentos, isto é, quando viajava a Fortaleza, para buscar o fardamento ou quando adoecia, coisa rara.
A jornada de dez meses incluía as instruções normais do dia-a-dia: ordem-unida, exercícios na pista de obstáculos no antigo Campo da Liga, marchas (Atiradores equipados ou não), exercícios de tiro ao alvo, no “stand” do Ponte, participações em desfiles, principalmente dos dias 25 de agosto e 7 de setembro; havia também atividades recreativas, ainda no Campo da Liga os jogos de futebol-americano, com aquela bola bicuda.
Ao final desses dez meses, se vencessemos a lida diária e o concurso de tiro (oito ou nove posições diferentes, com fuzil Mauser-FM), éramos submetidos a exame teórico-prático junto a uma Banca Examinadora, composta do Sargento Instrutor e de um Oficial do 24 BC. A maioria era aprovada (penso que fui o 2º colocado e o Ezíquio Barros, o 1º). O Chico “bidunga”, por exemplo, não conseguia ser aprovado no tiro-ao-alvo; muito tempo depois é que foram descobrir que sofria da vista.
O Carlos Bastos era o comandante do nosso Pelotão; eu, Atirador nº 15, o Josimar Moreira Ramos e o Ezíquio Barros (isto mesmo, o ex-Prefeito) comandávamos os três grupos de uns dez Atiradores cada.
Situações dignas de registro ocorriam: o Tenente Aluízio, aproveitando a ausência ou impedimento do Sargento Zerlino, “judiava” da gente: nus da cintura p’ra cima, depois de enlameados na pista de obstáculos, seguíamos em marcha até o centro da Cidade, passando pela Praça Gonçalves Dias (então ponto de convergência dos rapazes e moças, a “rodar” em sentido contrário, razão de muitos “flertes” que acabaram em casamento). É que as namoradas, ansiosas pelas nossas presenças, na Praça, tinham que se contentar em ver-nos naquele estado.
E quando íamos buscar o mastro que todos os anos é erguido em homenagem a São Sebastião, no mês de janeiro?
Tudo acontecia muito além do Ponte, numa mata que tivesse árvores muito altas e retas; tinha que ser madeira capaz de ser galgada, depois de ensebada e ficar no sereno muitos dias e muitas noites, na sede do TG (ficava no próprio Largo). No dia da Festa, de tão liso que ficava o mastro, ninguém conseguia subir e “pegar” o prêmio no seu topo.
Difícil era trazer o tronco, nas costas, um Grupo de cada vez. A cronometragem do tempo tinha em vista evitar que sofressemos o vexame de passar pela Praça.
Para que isso não acontecesse, ora andávamos mais devagar, ora corríamos no afã de transferir aos ombros de outro grupo. Penso que o nosso livrou-se do tronco no final da antiga Ponte Zé Fernandes, no começo da rua do Porto Grande, e comemoramos a conquista naquele dia memorável
Quantas lembranças! Minha mulher há mais de cinqüenta e dois anos, Conceição, caxiense como eu, dizia que não era bom viver no passado, que isto não deixava a pessoa ir em frente. Eu retrucava que era exatamente o passado que me ajudava a ir em frente, recordando com gratidão, conforme palavras do nosso querido Papa João Paulo II.
Pois bem: lembro-me do “Todo-Ruim”, apelido que o Sargento Zerlino deu a um dos Atiradores que não conseguia acertar o passo, dar aquele pulinho corretivo; lembro-me do José Armando Costa, meu vizinho e companheiro de farda, da sua “farofa” de sardinha da Mercearia do Maestro Josino Frazão, comerciante nas horas vagas.
Havia muitos Atiradores da Trezidela e do Ponte, o Getúlio Galvão Carvalho, o Antônio Bezerra, e muitos outros. Às vezes, em algum lugar da Cidade, ouço alguém chamar: Atirador nº 15! Nesses momentos volto a ser soldado.
O Exército é isto: uma grande Escola de civismo, ordem, disciplina, respeito à hierarquia, vivência de valores e crenças que devem nortear cada cidadão, além de proporcionar, de forma democrática, laços de amizade independentes de cor, raça, classe social.
Esta crônica é uma homenagem aos nomes aqui citados, também a todos os demais Atiradores que serviram comigo, no TG 194, no Ano da Graça de 1953, em Caxias. É também extensivo àqueles que, na atualidade, estão à frente dos destinos daquela Instituição Militar.
Meus respeitos a todos os Infantes, soldados que, numa guerra, estarão, sempre, na linha de frente.