GONÇALVES DIAS E A FUNDAÇÃO DO HUMANISMO NACIONAL: CAMINHOS DA CONSCIÊNCIA, DA EDUCAÇÃO E DA CULTURA
ROSSINI CORRÊA
Sonhei que era um imperativo categórico o resgate do desejo frustrado, mas extraordinário, de Josué Montello, de criação da Cátedra Gonçalves Dias. Compartilhei o delírio máximo com João Batista Ericeira. Este, por sua vez, – com o concurso de Raimundo Palhano – conseguiu institucionalidade para a ideia, junto aos Reitores Sérgio Tamer, da SVT Faculdade de Ensino Superior e do Centro de Estudos Constitucionais e de Gestão Pública- CECGP e Jhonatan Almada, do Instituto de Educação Ciência e Tecnologia do Maranhão IEMA e do Centro de Estudos e Pesquisas para Excelência em Educação-CEPEDUC A todos, que são ilustres amigos a tornar a utopia possível, o presente ensaio é dedicado.
O escritor José Américo de Almeida1 também foi orador, na tradição de Marco Túlio Cícero;2 moralista, segundo Juan Luís Vives, Alfonso de Valdés, António de Guevara, Diego de Saavedra Fajardo e Baltasar Gración3; bem como estadista e pensador político, à semelhança, entre os brasileiros, do Pai Fundador do Brasil Nação, José Bonifácio de Andrada e Silva4, do abolicionista, Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo5 e, sem discriminação de ninguém, do emancipacionista, Darcy Ribeiro6, do cultor das instituições, José Sarney7 e do transfigurador de agendas, Fernando Henrique Cardoso8. O Homem de Areia – terra natal do paraibano autor de A Bagaceira – quando da Restauração Democrática do II Pós-Guerra, ao reencontrar o Recife de sua formação jurídica, pontificou: “Este agora é o Pernambuco que eu conheci e amei, como a minha segunda terra, a terra do meu espírito, formado na vossa velha Faculdade e, principalmente, nas vossas praças públicas que eram, então, escolas livres da eloquência e do civismo do Norte. E o Pernambuco a que dei cinco anos de minha vida e que me deu a formação de toda a vida, numa idade em que nos educamos nos livros e, mais ainda, no ar que respiramos, como uma inspiração que circula por fora e por dentro da alma”9 A força ressonante da química valorativa dos cenários de formação no curso da existência, com efeito, recebeu o sinete do reconhecimento americista: “ Que me deu as lições da liberdade e do direito, o sentimento democrático e o ensino da lei, para aprender a ser homem e poder ter a semelhança de Deus: ser livre e ser justo. Que traçou minha carreira de disciplina e reações. O impulso que, já no outono, me lançou nesta campanha ainda é a força desse passado que me joga para a frente”10 Eis a mais do que relevante revelação, valiosa não apenas para um, mas para todos que a experimentaram.
A ser verdade o pressuposto em epígrafe, torna-se necessário formular as seguintes perguntas: como Coimbra, da velha Faculdade de Direito, a quem Gonçalves Dias concedeu quatro anos de sua vida, lhe conferiu – se porventura assim aconteceu – os valores norteadores de toda uma existência? Aprendeu o poeta de “Canção do Exílio” a conhecer e a amar a Universidade de Coimbra, respirando o ar da sua ‘segunda terra’, inspiradora, nos livros e nas praças, do chão de sua alma e do éter do seu espírito, no memorável compromisso, disciplinado e reativo, com o ‘ser livre’ e o ‘ser justo’, a fim de ‘aprender a ser homem e poder ter a semelhança de Deus’? A rigor, não há respostas substantivas para as questões propostas no primordial biógrafo do século XIX, Antônio Henriques Leal 11, e nos que o secundaram por todo o século XX, a exemplo de Lúcia Miguel Pereira12, Josué Montello 13 e Manuel Bandeira. 14 Este é o fundamento do presente ensaio gonçalvino, que objetiva expandir a consciência sobre o quatriênio conimbricense, e como, de alguma dialética maneira, terminou por ser um fio condutor relevante, pelo sim e pelo não, no itinerário do homem, do artista e do pensador, cujas circunstâncias existenciais dialogariam, de forma decisiva, com a necessidade de fundação do humanismo nacional brasileiro. Tratou-se, ali, de proceder à construção processual de um espírito e de uma consciência, para a identidade de a nação dividida entre senhores e escravos, decorrente do 7 de setembro de 1822, dia e ano formais da Independência do Brasil.
Ora, encontrou Antônio Gonçalves Dias no Índio o substrato elementar, alicerçante do significado e do significante da nacionalidade, distanciando-se, simbolicamente, da polaridade senhorial e europeia, escravagista e africana, ambas recentes e adventícias, mas que muito tinham de si, para edificar o específico mito de fundação autônoma do Brasil e dos brasileiros. Nem a casa-grande, nem a senzala15: o passado profundo, sim, as tribos da floresta, o contrato natural, onde estavam as raízes das raízes do Brasil16. Nada mais artificial e equivocado, portanto, do que o juízo peremptório da valorosa Lúcia Miguel Pereira, impermeável àquilo que estava na rua da casa, no sangue e na alma gonçalvinos, quase todas as vezes que se dissociou das pegadas de Antônio Henriques Leal: “Gonçalves Dias, que vibraria mais do que ninguém, logo aderiu com o seu grupo ao de Serpa Pimentel. Desse seu contato com os medievalistas lhe veio, certamente, o amor do passado português que manifestou nas Sextilhas de Frei Antão; e o que deve do seu indianismo à influência romântica – menos importante do que a parte recebida no sangue e na infância em Caxias, tão cheia de índios – foi uma manifestação do mesmo sentimento transposto para o Brasil”.17 Em decorrência, a romancista, ensaísta e biógrafa gonçalvina e machadiana sentenciou: “O indianismo teve, com efeito, entre nós, um caráter evidente de glorificação da raça, do mesmo nacionalismo que levou os europeus a cantarem a Idade Média. Os índios foram os nossos cavaleiros, os nossos barões, a nossa nobreza. Mais que ninguém, Gonçalves Dias assim os viu”. 18 Não é razoável, por falta de veracidade, a consequência lúcia-miguel- pereiriana.
Não compreendeu a biógrafa gonçalvina que espécie de mestiço foi o poeta da “Canção do Exílio”, no que tinha de branco, no que sabia ao negro e no que o definia como índio. Sim, em parte, mas em parcela altissonante, Antônio Gonçalves Dias era o índio, que estava em si, no sangue e na alma gonçalvinos, na sua casa, rua, praça e cidade de Caxias, desde o útero de onde fora proveniente. E mais: índio que conformara, como o bom selvagem, o mito espiritual da Revolução Francesa, preparado desde Michael de Montaigne 19 e iluminado por Jean-Jacques Rousseau20, não por acaso, prócere do movimento romântico, autor do magno romance do século XVIII, modelo do Werther 21, de Goethe, qual seja, Júlia ou a Nova Heloísa: cartas de dois amantes habitantes de uma cidadezinha ao pé dos Alpes.22 A bem da verdade, os nossos cavaleiros, os nossos barões, a nossa nobreza, na real, por Gonçalves Dias foram repudiados, como consignou Antônio Henriques Leal e repetiu Lúcia Miguel Pereira, ao recordar que o poeta foi recebido por Dom Pedro II, em companhia dos condecorados Joaquim Manuel de Macedo e M. A. Porto–Alegre, sem que portasse nenhuma comenda. Outorgou o Imperante ao autor de Brasil e Oceania a Imperial Ordem da Rosa, no grau de cavaleiro, em companhia dos nossos barões e da nossa nobreza, porém, o agraciado resistiu, redarguindo: “Nada, não quero que me confundam com algum tendeiro ou negreiro, basta que embrulhem aqueles a manteiga e o açúcar com o que escrevo!”23 O poeta nada tinha de alienado, portanto, nele reinando a vigilância crítica quanto à realidade envolvente.
Dispunha Gonçalves Dias de aguda consciência histórica, merecendo a ponderação escrita por Antônio Henriques Leal, a saber: “Encostava-se neste parecer ao do Padre Antônio Vieira, de que as comendas em certos peitos não são cruz, são aspa, e quando via tantos sambenitados da honra, honrava-se de não ser um deles”24. Muito diversa, de qualquer maneira, foi a motivação gonçalvina para escrever as Sextilhas de Frei Antão, a qual não decorreu de nenhuma rendição à influência do grupo medievalista de Serpa Pimentel, porém, da reagente necessidade de revelar o grau do seu conhecimento da língua e da linguagem portuguesas, quando do murmúrio de que tropeçava em seus fundamentos, restando minorado nos sentidos gramatical e estilístico, ainda que equivocadamente apontado, segundo registrou Josué Montello, no “seu drama Beatriz Cenci.”25 Recorde-se, por oportuno, que em janeiro de 1847, quando tinha apenas vinte e três anos e quatro para cinco meses, começou Gonçalves Dias a escrever as Sextilhas de Frei Antão, merecendo de Sotero dos Reis a devida consideração quanto à sua precoce e substantiva erudição: “Causa em verdade assombro ver como um mancebo de vinte e três a vinte e quatro anos pode em tão pouco tempo adquirir tão profundo conhecimento de português antigo e moderno para compor, por um milagre de talento, que outro nome não tem, as mais belas e mimosas poesias na velha e pobre linguagem do Cancioneiro de El- Rei D. Diniz”26, conforme consignou no seu Curso de Literatura. E o jovem poeta Gonçalves Dias tirava por menos o que era muito, como comprova a carta dirigida a seu amigo-irmão Alexandre Teófilo de Carvalho Leal: “Tenho escrito alguma coisa; ontem mesmo, Sexta-Feira da Paixão, acabei uns 400 versos para a obra que estou fazendo, e que eu quero ver se publico antes de sair do Rio, é uma obra que pretendo atribuir a um frade, que existiu em fins do século 15º e começo do seguinte: um pouco antiquado no estilo e no pensamento. Há já feitas cousas de quatrocentas sextilhas – de lendas, loas e solaus, e não sei té onde chegarão. São tuas, já tu disse”.27 E assim não foi.
Entre outubro de 1838 e janeiro de 1845, enfrentando graves percalços, em Portugal e, em particular, em Coimbra, em cuja Universidade, fundada em 1290, conquistaria a grau de Bacharel em Direito, na primeira das três modalidades possíveis: o de Bacharel em quatros anos, o de Bacharel formado no quinto ano e o de Doutor com tese defendida.28 O deslumbramento contrastou com a mais profunda decepção, na experiência gonçalvina em Portugal. A desorganização da economia maranhense, resultante da Balaiada, perpassou o oceano e, em ondas ressonantes, alcançou, de maneira frontal, o estudante maranhense, órfão de pai e dependente, para seu desgosto, da madrasta, D. Adelaide Ramos de Almeida. Dois testemunhos gonçalvinos são inexoráveis quanto aos necessários resgates, ambos dirigidos a Alexandre Teófilo de Carvalho Leal, cunhado de Ana Amélia Ferreira do Vale. Eis o primeiro, de 28 de setembro de 1843: “Aqui estou, meu amigo, nesta terra maldita e aporrinhada – maldita de quanta poesia há no mundo – e aporrinhada quanto aporrinhações podem aporrinhar um cristão”29 E também o segundo, de 1 de maio de 1845: “Triste foi a minha vida de Coimbra – que é triste viver fora da pátria, subir degraus alheios – e por esmola sentar-se à mesa estranha. Essa mesa era de amigos... embora! O pão era alheio – era o pão da piedade – era a sorte do mendigo. Compaixão! É um termo de expressão incompreensível – não a quero”.30 Entremeando-se no discurso, como terceiro incluído, a síntese do valoroso timbira foi reparadora e explicativa: “Mas ser desconhecido – ou mal conhecido, mas sentir dores d’alma, mas viver e morrer sem nome, sonhar de tormentos e viver deles – é mais triste ainda.”31 Apesar da Universidade de Coimbra, a Universidade de Coimbra preparou Antônio Gonçalves Dias para a vivência de um grande destino. Ali haviam fracassado a Nova Pedagogia de Luís Antônio Verney e a Reforma do Marquês de Pombal. Se existia império era o do Reino da Estupidez, denunciado por Francisco de Melo Franco, que conheceu o cárcere da Inquisição por um quatriênio:
– “Muito ilustres e sábios acadêmicos!
Por direito divino e por humano, Creio que deve ser restituída
À grande Estupidez a dignidade Que nesta Academia gozou sempre.
Bem sabeis quão sagrados os direitos Da antiguidade são; por eles somos, Ao lugar que ocupamos, elevados Oculta vos não é a violência
Com que foi desta posse desbulhada. Vós, testemunhas sois dos sentimentos Com que a vimos partir tão desprezada: Porém sempre, apesar do seu desterro Constante, tributei dentro em meu peito Homenagens devidas à que fora
Na minha infância carinhosa Mestra E na velhice, singular Patrona.
Entrai pois, Companheiros, em vós mesmos, Ponderai sem paixão: para que serve
As pestanas queimar sobre os autores, A estimável saúde arruinando?
P’ra este tempo em bom sossego, Divertir e passar alegremente, Acaso precisais de mais ciência? Se os dias desta breve e curta vida
Tivéssemos com os livros perturbado Teríamos acaso mais prebendas,
Mais dinheiro, mais honra, mais estima? De que podem servir estes estudos
Que mais da moda se cultivam hoje? A barb’ra geometria tão gabada
Que mil proposições, todas heréticas, Aqui faz ensinar publicamente, Sabeis para que presta neste mundo? A sua utilidade temos visto,
Diga-o a Inquisição e mais não digo. Oh, góticos estudos nunca ouvidos Nos tempos, em que tanto florescia Um Seara, maior do que o seu nome Um Pupilo, um frei de São Mauro, Que sempre chorarão os frades bentos! Histórias Naturais, Foronomias, Químicas, Anatomias, e outros nomes Difíceis de reter, são as ciências
Que vieram trazer os estrangeiros. Há coisa mais cruel, mais desumana,
Mais contrária à razão, que ver os médicos Um cadáver humano espatifando,
Um corpo que habitou o Espírito Santo?
Nunca tal praticaste, oh bom Lopes, Quando pelo Natal, em um carneiro, O bofe, o coração, as tripas todas,
A teus hábeis discípulos mostravas. Quem pode sem desprezo ver um lente De imensos estudantes rodeado,
Pelos campos vagar, ali colhendo Uma ervinha, uma flor, um gafanhoto? Acolá, um fuzil ferindo as pedras? Deixemos, pois, um dia, oh sábia gente, Estes prestígios que nos têm cegado; Ponhamos como dantes estas coisas Em seu antigo ser; como bons filhos Recebamos a nossa Protetora;
O que foi sempre seu, em paz governe”32
A vocalização em epígrafe, estampada no Canto III do poema, é do catedrático de Teologia no Salão do Conselho, cercado por refeitórios repletos de vinhos e de presuntos. O discurso exposto, de natureza iluminista, é datado de 1785, das vésperas, portanto, da Revolução Francesa, no célebre 14 de julho de 1789. E, por ter o espírito da ilustração, o poema carrega consigo a artificial clivagem, de aguda funcionalidade, entre as supostas Trevas (do Obscurantismo), e as Luzes (do Racionalismo), e defende, na locução do lente primaz, a global censura ao novo espírito científico e a busca da verdade empírica que o conformava. Em consequência, o poeta não apenas registrou, na denúncia do catedrático do Saber do Sagrado, que as ideias responsáveis pelo desalojar do tradicionalismo foram provenientes do estrangeiro, porém, festejou os amparos nos Direito Divido e Humano e reclamou o regresso da estupidez aos ancestrais domínios que lhe pertenceram. Luís Antônio Verney – a quem o ensaísta Antônio Sergio designou como “apóstolo cívico”33– foi objeto de cerrado combate pelo jesuítas, os quais impugnaram o seu sensorialismo racionalista, buscando demonstrar não ter o seu argumento, quer filosófico, quer pedagógico, nada de originalidade, nada de novidade, resumindo-se a uma disposição polêmica de segunda paginada, insuscetível de permanecer hígida, sob o cerco conservador da sociedade portuguesa. Neste sentido, a intuição do primeiro Francisco de Melo Franco foi certeira, quanto à percepção de que, em terras lusitanas e, em particular, na Universidade de Coimbra, o estabelecimento em restauração venceria a hipotética renovação. Ei-lo, na poética construção da sua síntese:
“Os doutores vêm logo por seu turno Vassalagem render, e vão passando. A mole Estupidez brinca entretanto Com os lindos anéis do bom morgado, Que, aflito, não quisera ter tal honra, Receando que assim se descobrisse Que cabelo não é, mas que lhe cobre A luzidia calva, cabeleira.
Porque em menos não preza o ser bonito Do que fidalgo ser, e ser poeta.
Seguem-se finalmente os lentes todos, Que são alegremente recebidos.
Mas chegando a Trigoso, fica a Deusa Assombrada de ver tal catadura,
Não menos carregada que a de um touro
Que sopra e para trás a terra lança Quando para investir se ensaia irado. Com imensa alegria rematada
A geral confissão de vassalagem:
“Em paz gozai (a Deusa assim profere) Da minha proteção, do meu amparo; Eu gostosa vos lanço a minha bênção. Continuai, como sois, a ser bons filhos,
Que a mesma que hoje sou, hei de ser sempre”. 34
Registre-se que a Faculdade de Direito era a joia da coroa da Universidade de Coimbra, ali recebendo, no século XIX, sobretudo, “os filhos da média e alta burguesia.”35 Não somente no período que antecedeu a passagem de Gonçalves Dias pelo curso jurídico conimbricense, a ambiência acadêmica resultou cercada de críticas e de celeumas, como talvez seja próprio, e até mesmo desejável, na vida universitária. Antônio Nobre, o poeta português autor de Só e de Despedida, admirador de Almeida Garret, fundador do romantismo lusitano36, pelo menos em cinco poemas se reportou, em cenários posteriores aos vivenciados pelo escritor maranhense, ao universo de Coimbra: “Para as Raparigas em Flor”, “Carta a Manoel”, “D. Enguiço”, “Na Estrada da Beira” “Males de Anto”.37 Sem rebuços, Antônio Nobre também fustigou a Universidade de Coimbra, criticando-a por ter conservado o sinete do passadismo:
“Hoje, mais nada tenho que esta Vida claustral, bacharelática, funesta,
Numa cidade assim, cheirando essa indecente,
Por toda a parte, desde a Alta à Baixa, a lente!
E ao pôr-do-Sol, no Cais, contemplando o Mondego, Honestos bacharéis são postos em sossego
E mal a cabra bala aos Ventos aos seus ais, ‘Speech’ de quarto d’hora em palavras iguais, Os tristes bacharéis recolhem às herdades, Como na sua aldeia, ao baterem Trindades. Bem se dizias tu, como que adivinhando
O que isto para mim seria, Manoel, quando O ano passado, vim contra tua vontade Matricular-me, ai, nessa Universidade: ‘Anto, não vás... dizias tu. Eu, fraco, vim. Mas certamente, é natural, não chego ao fim. Ah quanto fora bem melhor a formatura,
Na Escola-Livre da Natureza, Mãe pura! Que ótimas preleções as preleções modernas, Cheias de observações e verdades eternas, Que faz diariamente o Prof. Oceano!
Já tinha dado todo o Coração Humano, Manoel, faltava um ano so para acabar Meu curso de Psicologia com o Mar. Por que troquei pela Coimbra de avelã Essa escola sem par, cujo o Reitor é Pã?
Talvez... preguiça, eu sei... A cabra é a cotovia:
As aulas, há, começam, mal aponta o dia!
Que tédio o meu, Manoel! Antes de vir gostava!38
O mal-estar subjacente onde se encontra? Certamente, no contraste entre a Liberdade, estampada no Livros da Natureza e a Escravidão, suposta na Universidade de Coimbra. Se uma foi qualificada como a ‘Mãe pura’; a outra, por contraste, só poderia ser designada como a ‘Madrasta impura’, facilitando o aprendizado, a primeira; embargando o conhecimento, a segunda. Antagônicas pedagogias, portanto. Em outras palavras, unificando Francisco de Melo Franco, do século XVII e Antônio Nobre, do século XIX, seria a antinomia do ‘Reino da Clarividência’ (Natural), com o ‘Reino da Estupidez’ (Institucional). Considere-se ainda o seguinte: “Para as Raparigas de Coimbra” é de 1890; “Carta a Manoel” é de 1888-1889-1890; “Viagens na Minha Terra” é de 1892; “D. Enguiço” é de 1893; “Na Estrada da Beira” é de 1891; e “Males de Anto” não possui registro cronológico. De qualquer maneira, uma ponderação a ser feita, sem julgamento de mérito, é a de que, entre 1785 e 1893, ou seja, dos versos de Francisco de Melo Franco e do mais tardio dos poemas de Antônio Nobre, medeia mais de um século de crítica pedagógica à Universidade de Coimbra, encontrando em seu caminho a vida estudantil de Antônio Gonçalves Dias. “Em Viagens na Minha Terra” até a avó de Antônio Nobre foi posta a desejar a libertação do seu neto do ambiente coimbrão:
“Lá vejo ainda a nossa Casa Toda de lume, cor de brasa, Altiva, entre árvores, tão só!
Lá se abrem os portões gradeados, Lá vêm com velas os criados,
Lá vem, sorrindo, a minha Avó.
E então, Jesus! Quantos abraços!
• Qu’é dos teus olhos, dos teus braços, Valha-me Deus! Como ele vem!
E admirada, com as mãos juntas, Toda me enchia de perguntas, Como se eu viesse de Bethlem!
• E os teus estudos, tens andado? Tomara eu ver-te formado!
Livre de Coimbra, minha flor! Mas vens tão magro, tão sumido... Trazes tu no peito escondido,
E que eu não saiba, algum amor?”39
É conveniente, agora, tudo pesado, tudo medido, retornar à pergunta original: a Coimbra da formação jurídica de Gonçalves Dias foi a sua ‘segunda terra’, aquela amada, como o chão do ‘seu espirito’, ao qual concedeu um quatriênio de ‘sua vida’ e que lhe concedeu, em resposta, os valores de ‘toda a vida’, guardando-lhe ‘dentro da alma’ os ensinamentos necessários, à ‘semelhança de Deus’, para ‘ser livre e ser justo’? A resposta, positivamente, é sim. A começar pela circunstância, do geral para o particular, de que na Universidade de Coimbra, pelo sim e pelo não, descobriu Gonçalves Dias a relevância do problema educacional para o destino do indivíduo e da coletividade, de a nação, enfim. Na ambiência cultural de Coimbra começou o poeta de “Canção do Exílio”, com efeito, a se movimentar nos labirintos da vida literária, na imprensa acadêmica e fora dela, do que o “Trovador” foi exemplo prestante para a primeira hipótese e multidimensionou o vértice dos seus interesses intelectuais, estudando as literaturas francesa e inglesa, em especial, bem como a portuguesa e uma multiplicidade de línguas: latim, alemão, francês, inglês, italiano etc.40
Aquele menino que descobriu o prazer da leitura em Caxias, no balcão de comércio, ao recitar textos épicos, heroicos e galantes para a curiosidade de tropeiros ágrafos, consolidou e multiplicou interesses intelectuais, merecendo de Antônio Henriques Leal o seguinte comentário: “Ninguém foi nunca mais estudioso do que ele”41 Compreende-se, em consequência, a amplitude de interesses culturais gonçalvinos, a perpassar artes, ciências e Letras em navegação espiritual a congregar poesia, teatro, ficção, filosofia, etnologia, geografia, história, matemática, economia, direito, política, linguística e, no mínimo, teologia, antropologia e sociologia. Eis ainda o Plutarco Maranhense: “Operário da inteligência, não conhecia o que era medir o estudo pelo tempo, e largava os livros da mão só de puro cansaço”43 Pode-se, sem amor ao paradoxo, garantir que, se o menino Antônio nasceu em Caxias, o jovem Gonçalves Dias renasceu em Coimbra, à sombra de cuja Universidade, vencendo os seus limites, retirou tudo, tudo quanto, de melhor, pode lhe oferecer, tornando aquele ambiente intelectual o frutífero produtor de um grande humanista.
E quanto ao homem em si mesmo, sua consciência e as atitudes que evidenciou: que pode ser avançado? O jovem Antônio, mal chegando em Portugal, já demonstrara, ainda que no seu verdor, a têmpera em formação, na correspondência dirigida à sua madrasta, D.Adelaide Ramos de Almeida, relativa às mesadas de que necessitava para viver e estudar na Universidade de Coimbra. Na missiva em questão, fora quase imperativo, nunca suplicante, a indicar à preconceituosa matriarca rural o quê, o como e o porquê, ditando os caminhos, inclusive negociais, do que fazer para garantir a sua sobrevivência estudantil na Europa, quando a desorganizada economia maranhense experimentava o abalo sísmico decorrente da eclosão da Balaiada44. O caráter gonçalvina em formação não transigiu com a honradez e com a verticalidade, em confirmação do substrato de sua tessitura profunda, do que foi demonstração apolêmica do acadêmico Antônio, ainda pendente de exames, com o professor de Direito Civil, catedrático na matéria, Padre Luís Teixeira.45 A razão da contenda? Registrou Josué Montello: um compêndio de Direito Civil.46 De intramuros acadêmicos, a demanda extrapolou para os jornais e o estudante Antônio assinou artigo contra o mestre em a “Revolução de Setembro”, enquanto os colegas remetiam representação “ ao governo contra o padre.”47 Tudo a céu aberto.
Em reveladora carta dirigida ao colega Jacobina, avô do historiador Américo Jacobina Lacombe, que a disponibilizou a Lúcia Miguel Pereira, o acadêmico Antônio – reitere-se: pendente de exame em Direito Civil com o lente Padre Luís Teixeira e banca noticiou, vitorioso: “Fiz ato – fiz bom ato – os homens trataram-me com mais delicadeza do que eu esperava deles por causa de um artigo que eu assinei este ano contra o lente do meu ano – um pobre diabo de lente. Porém os homens portaram-se com grandeza d’alma
• melhor para eles”48 Etc etc e E, em seguida, a sentença magna, glorificadora, enquanto preliminar de mérito, de sua meridiana atitude: “Eu tinha a minha consciência
• agora vou dormir, que passei a última noite do ponto em claro”49 E ainda: “tanto me importava que eles me deitassem R ou não”50 Eis o homem! Jovem ainda, mas precoce, para o qual a consciência era tudo, se o acadêmico Antônio não vacilou em confrontar o Lente e Padre Luís Teixeira, de Direito Civil , o poeta Gonçalves Dias, por sua vez, ao separar o alfa do ômega, resgatou o Frei Antão, do século XV e a partir dele orquestrou o canto coral de loas, solaus e lendas, em artesania sem paralelo no romantismo brasileiros, do que são exemplos colhidos aos ventos os seguinte excertos:
Da “LOA DA PRINCESA SANTA”
Deu-nos Deus tantas vitórias, E tanto pera louvar,
Que os Padres de Sam Domingos Já não sabiam rezar;
Todo-lo tempo era pouco Pera louvores cantar!
Sendo tantas as batalhas, Nem recontro se perdeu! Aqueles Padres coitados Não tinham tempo de seu: Levavam todo cantando Louvores ao pai do céu”.51
Do “SOLAU DO SENHOR REI DOM JOÃO”:
Vêm logo as leis cá da terra Contrapor-se às leis dos céus: Sede cristãos, reis senhores, Ou então de todo incréus!
Leis dos homens não se casam, Não seguem às leis de Deus.
Não ligueis num só consórcio Terra feia e céu luzente:
Leis da terra a terra buscam, Como a raiz da semente;
Leis do céu os céus procuram Como flor que o sol pressente”.52
Compreende-se, pelo exposto, que entre o Padre (Teixeira) e o Frade (Antão), demonstrou Gonçalves Dias, na prática, que seu espírito estava em sintonia, regra geral, com a proposição estampada por René Descartes, no Discurso do Método, em busca da clareza e da distinção universais, “para conducir ordenadamente sus pensamentos”53 , para conduzir ordenadamente seus pensamentos. O denominado iluminismo radical, entre 1650-1750, contribuiu de maneira decisiva para a construção da modernidade, encontrando no filósofo e matemático radicado nos Estados da Holanda um sitiado corifeu, com a postura dos burgomestres de Leiden a estabelecer “a proibição de mencionar o nome de Descartes nas palestras”54. E seus livros, muitos menos... De qualquer maneira, por caminhos multifacetados, o Iluminismo desaguou na afirmação jurídico-política da Era das Nações, por meio das três revoluções essenciais da modernidade, quais sejam, a Revolução Gloriosa, na Inglaterra de 1688, a Revolução da Independência dos Estados Unidos, nas 13 Colônias, em 1776 e a Revolução Francesa, de 1789, de cunho e de consequências universalistas55 Sucede que, nada obstante, o mundo moderno em avançada formação estava bifurcado desde o Renascimento, com o ciclo das Navegações e das Descobertas, permissivo do encontro desigual de civilizações, com a formação do Pacto Colonial, de que Portugal foi protagonista, porém, de decaída hegemonia, sucedida pela Holanda, pela Espanha e pelo Reino Unido.
Nesta passagem, por inevitável, outra pergunta torna-se imperiosa: em que Portugal viveu esse mestiço caxiense, maranhense e brasileiro, sabido a índia e a negra e filho de português, chamado Antônio Gonçalves Dias? E mais: como o ambiente lusitano, ao reverso, não só a contratempo, mas a tempo também, preparou o poeta e filósofo maranhense – como era considerado – para a tarefa de fundação do humanismo nacional? Portugal transitara do centro construtor do mundo moderno para a periferia da Europa, onde não desejava permanecer, entregue ao reformismo autoritário e centralista do Marquês de Pombal, cuja difusa referência era o Iluminismo, com o seu ideário condensado na Enciclopédia, nas palavras de Jean le Rond d’ Alembert, voltada para um duplo propósito: a) “deve expor, tanto quanto possível, a ordem e o encadeamento dos conhecimentos humanos”56 e b) “deve conter sobre cada ciência e cada arte, seja liberal, seja mecânica, os princípios gerais em que se baseia e os detalhes mais essenciais que formam o seu corpo e substância”57 Recorde-se que Sebastião José de Carvalho e Melo, nomeado por Dom José I, foi primeiro – ministro de Portugal, a demarcar em torno de sua influência, o período pombalino, compreendido entre 1750 e 1777, enquanto a Enciclopédia, que antes de ser um livro, foi um espírito, começou a ser editada em 1750- 1751 e registrou a conclusão de sua publicação em 1772. Ao referido espírito estava vinculado o Marquês de Pombal, em íntima conexão com o despotismo esclarecido, caro a Voltaire e a Diderot, ao exprimir a consciência bifurcada do Iluminismo, ardoroso defensor da consumação do Estado Nação Soberano, só que na Europa, ao qual deveria corresponder o seu ‘direito imperial’ de conquista, manutenção e exploração de Colônias na periferia do mundo, advogado desde, pelo menos, Thomas Hobbes e John Locke.
Nada mais correspondente ao programa político e administrativo do período pombalino: restaurar Portugal para a sua grandeza de Estado Nação Soberano no concerto da Europa, por meio, contudo, de sua projeção oceânica imperialista, com a superexploração colonial arquitetada em Ásia, em África e na América do Sul, sobretudo. O ponto simbólico de tentativa de mutação do destino português, autêntica busca de viragem desafiada pela dimensão dramática, aconteceu no 1º de novembro de 1755, com o Terremoto de Lisboa. Avocou para si o Marquês de Pombal a responsabilidade pela reconstrução da Cidade, e, não por acaso, onde fora o Terreiro do Paço Real nasceu a Praça do Comércio, considerado este “o facto cultural e político, quer dizer ideológico, mais importante do pombalismo”58, como estatuiu José-Augusto França. Eis do que se tratava: “Ao Rei e à corte sobrepõe-se uma nova classe privilegiada, que faz o comércio necessário ao País em reformação”59. A Nova Lisboa, vinda à luz em “parto catastrófico,60 revelaria o equilíbrio instável das forças sociais e políticas dominantes, harmonizando contrastes dos estilos neoclássico, expressão de “uma empresa burguesa e laica” 61 e barroco, tradução de “uma iniciativa áulica e sacra”62 Entre o “êxtase progressista” e o “sentimentalismo refractário”, no Passeio Público, pedia passagem “a civilização do romantismo nacional”63. Quase tudo estava em discussão, no confronto a dividir regeneradores e progressistas, em um Portugal que não podia, entretanto, se demitir de si mesmo, a existir como herança, sobrevivência e condicionamentos, do que o Tratado de Methuen, de 1703, mas renovado em 1810, como Tratados de Aliança e Amizade, de Comércio e Navegação, caucionando com o ouro do Brasil, embargado em sua indústria, o desequilíbrio comercial anglo-lusitano, em favor da imperial Inglaterra.
Eis Portugal, Estado-Nação desde 1297, pioneiro da modernidade jurídico- política na Europa, ainda em busca de um ser, de uma alma, enfim, de uma ontologia ou uma consciência nacional. Dois intelectuais, escritores e políticos personificaram o debate: Almeida Garret ( a conveniência centralista) e Alexandre Herculano (a verdade municipalista), ambos intimamente relacionados à história literária gonçalvina, o primeiro, em dialogia com o seu teatro e o segundo, crítico consagrador da sua poesia, bem como cultores da história, qual seria o escritor maranhense. Tratava-se de Portugal guardador de rebanhos de impasses, quer relacionais, quer estruturais. Relacionais, os decorrentes da subordinação central da economia portuguesa aos ditames e aos interesses da imperial Inglaterra. Estruturais, os resultantes da dependência da terra, do comércio, da indústria, dos serviços, das finanças, de todo Portugal econômico, enfim, a um destino comum, de natureza d’além-mar, colonialista. Se se pudesse formular desta simplificada maneira, seria o adequado: Portugal, vítima do colonialismo central da Inglaterra, na Europa, tornou-se ultradependente da dominação colonialista, no mundo, para sobreviver... O que envolvia, de maneira capital, a sobrevivência do magistério sobre o Brasil, onde estava a Família Real, Dom João VI à frente, no ano de 1808, fugida da invasão de Napoleão Bonaparte sob proteção de Inglaterra, a festejar a Abertura dos Portos às Nações Amigas, pela Carta Régia criada e ratificada no dia 28 de janeiro, em Salvador, com menos de cem horas de mal chegados ao país o Príncipe-Regente e a sua Corte.
A Revolução Liberal do Porto, de 24 de agosto de 1820, aliança política de comerciantes, nobres, clérigos, militares e gentes do povo, de cunho antiabsolutista, acusou o golpe do Decreto da Abertura dos Portos às Nações Amigas, ao testemunhar o crescimento galopante dos interesses britânicos no Brasil, correlato ao declínio da presença econômica de Portugal, para onde deveria regressar, de imediato, Dom João VI. Para quê? Com qual agenda? Para cumprir quais propósitos? De maneira cirúrgica, para retornar Dom João VI a Portugal, conformá-lo à Monarquia Constitucional, fazê-lo liberar as forças armadas lusitanas da tutela inglesa e, sobretudo, uma vez distanciado do absolutismo e reenquadrado no liberalismo, na esfera da política externa, torná-lo proativo agente, agora, do Fechamento dos Partos e da retomada colonialista do Brasil, revivificando todo o sistema imperial lusitano. Tratava-se, com efeito, de ambição do progresso endógeno, por meio do regresso exógeno, retomado o Pacto Colonial dos séculos XV e XVI, que combinou genocídio indígena com escravismo africano, pelo menos, nas Três Américas: do Norte, Central e do Sul. E o problema não era do liberalismo português, ou mesmo europeu, sim, do Iluminismo e sua quase geral legitimação do colonialismo genocida e escravocrata, desaguado no pensamento liberal.
E, àquela altura da vida social portuguesa – a do vintismo ou da viradeira – estava em pauta a definição de uma agenda que perpassaria as décadas seguintes, no mínimo, da primeira metade do século XIX, qual seja: “Trata-se da genuinidade da Nação, que é problema romântico por excelência, com suas desinências populares e sua exploração literária e, naturalmente, política”64 Pairava no ar, respirando a grande pergunta, segundo o espírito da era das nações, a dilacerante ausência de resposta portuguesa: “Onde reside ela, a autenticidade ou o génio da raça?”65 Eis os papéis de protagonistas de João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garret, nascido no Porto, em 1799 e falecido em Lisboa, em 1854 e de Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo, nascido em Lisboa, em 1810 e falecido em Santarém, em 1877, o primeiro, a anteceder na morte a Antônio Gonçalves Dias, cujo naufrágio fatal aconteceu a 3 de novembro de 1864; o segundo, a sobreviver ao passamento do poeta de “Canção do Exílio” por treze anos, ele que era treze anos mais velho do que o artista e pensador brasileiro, metade português. Sucede que, com todas as contingências possíveis, a permanência do impasse foi a perduradoura pseudossolução portuguesa, em um “espírito fundamentalmente conivente”68 que, inobstante, por mais descaminhos do que caminhos, pretendia “gerar uma nova nação moderna e europeia”69 Todavia, à burguesia nobilitada lusitana, consolidado o estamento aquém do espírito pombalino, perdidos o Brasil e o tráfico negreiro, restou um destino simbiótico: ser a antimoderna periferia da Europa, sobrevivendo do parasitismo do liberalismo colonialista em África.
Assim anteviu o “Relatório” de Fernandes Tomás resgatado por José Tengarrinha, estudioso do liberalismo recolonizador de 1820, fracassado quanto ao robustecimento do império lusitano a partir da reconquista do Brasil: “Quem sabe quais serão um dia nossos recursos e nossos meios?”70 E ainda: “Quem pode conhecer qual será em toda a sua extensão nosso estado futuro e futura situação das nossas relações comerciais com os portos do Brasil e da Ásia?”71 Enfim, a palavra de ordem: “nas críticas circunstâncias em que nos achamos é necessário dar uma particular atenção aos nossos estabelecimentos de África e das ilhas adjacentes a Portugal.”72 A esse Brasil, perdido pela metrópole periférica lusitana, juntamente com o tráfico negreiro, 73 pertencia o Bacharel Antônio Gonçalves Dias, retornado de Portugal e desembarcado na terra das palmeiras, positivamente influenciado por sua vivência ibérica, em particular, aquela experimentada na Universidade de Coimbra, desdobrada para o ambiente literário e político da pátria à espera do retorno de São Sebastião e desejosa de algum outro futuro, de Almeida Garrett e de Alexandre Herculano. Regressou o poeta brasileiro com uma percepção crítica da realidade europeia e portuguesa envolventes e com um agudo espírito nacional de missão.
Quais, se porventura verdadeiras? A de que nada havia a esperar de quaisquer das potências europeias colonialistas, a uma. A de que, mesmo Portugal, intimamente vinculado ao Brasil, podia ter o ânimo imperial mais retrógrado, colonialista, genocida e escravista, a duas. A de que, tornando-se o liberalismo europeu, português e brasileiro meramente instrumental, realizou fulminante concessão colonialista, genocida e escravista, a três. A de que, para ter alguma viabilidade a Independência do Brasil, precisava a nação emergente, em sua tumultuada infância regencial recente, de um mínimo de estabilidade política, a quatro. A de que pró-homens como José Bonifácio e Odorico Mendes, no argumento político, este; no exercício do poder, aquele, melhor serviram à nação noviça, demandando por sua estável unidade, a cinco. A de que, mais do que na paixão artificial e patrimonialista dos partidos liberal e conservador, a função estabilizadora estava jogada no lance de dados da figura do Imperante, a seis. A de que, se trilhasse o precoce caminho das repúblicas sul-americanas, o Brasil poderia se desintegrar em miríade de micro-países mais inviáveis ainda, entregues ao mandonismo de sobas de campanário, a sete. A de que o testemunho do General Abreu e Lima, fundador anticolonialista de repúblicas – lado a lado com Simón Bolívar – era inestimável, a oito. A de que, morto o Libertador Simón Bolívar e fracassado o seu sonho unitarista, o General Abreu e Lima compreendeu a especificidade do momento nacional e, no Brasil e sua conjuntura, uma vez retornado, aderiu ao papel institucional da monarquia, a nove. A de que, finalmente, o Brasil não poderia caminhar sob a cegueira do espírito, necessitando, de maneira vitalíssima, de fundação do humanismo nacional, a prefigura a sua construção civilizatória, o que pressupunha a geração histórica de uma consciência, a reclamar, por sua vez, essenciais compromissos com a educação e com a cultura, a dez.
Gonçalves Dias foi um aristocrata do espirito com alma democrática, e, se existiram personalidades com consciência consigo convergentes, antes, durante e depois, na história imperial brasileira, foram eles José Bonifácio de Andrada e Silva, José Ignácio de Abreu e Lima (o General Abreu e Lima, o General das Massas) e Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, ou, simplesmente, José Bonifácio, Abreu e Lima e Joaquim Nabuco, todos construtores e intérpretes da história nacional.74 O itinerário gonçalvino, em todo o seu espectro, necessita de revisão – do que constituem contraprova interpretações recorrentes, advindas de autores valorosos, porém, às vezes, sentenciosas, a exemplo da biógrafa Lúcia Miguel Pereira, o que pode ser comprovado com os seguintes excertos:
I: “Em Gonçalves Dias, esse dualismo, patente até na forma literária – basta lembrar a sobriedade estilizada da “Canção do Exílio”, o ‘ensaio filológico’ das Sextilhas, o apuro em que se esmerou, sobrepujando os demais românticos – pode dar a impressão de que existia um clássico em embrião dentro desse romântico”75
CONTRAPONTO: Ora, o que significa o ‘estilizado’, na ‘sobriedade’ respiratória, quase natural, da “Canção do Exílio”? De resto, não há como considerar, do ângulo de visão quer do artesanato, quer da voltagem poéticos, a fabulação das fulgurantes Sextilhas de Frei Antão sob a redutora rubrica de ‘ensaio filológico.’ Melhor compreendeu o problema Josué Montello, ao sublinhar a existência de uma dicção clássica na cultura timbira, de que o Grupo Maranhense – retratado por José Veríssimo – foi ressonante expressão. Não houve, portanto, ‘clássico em embrião’ no romântico Gonçalves Dias, e sim, um fundo molecular clássico, no organismo vital romântico de Gonçalves Dias e do Grupo Maranhense, a exemplo de João Lisboa, Sotero dos Reis e Odorico Mendes.
CONTRAPONTO: Ora, o que significa o ‘estilizado’, na ‘sobriedade’ respiratória, quase natural, da “Canção do Exílio”? De resto, não há como considerar, do ângulo de visão quer do artesanato, quer da voltagem poéticos, a fabulação das fulgurantes Sextilhas de Frei Antão sob a redutora rubrica de ‘ensaio filológico.’ Melhor compreendeu o problema Josué Montello, ao sublinhar a existência de uma dicção clássica na cultura timbira, de que o Grupo Maranhense – retratado por José Veríssimo – foi ressonante expressão. Não houve, portanto, ‘clássico em embrião’ no romântico Gonçalves Dias, e sim, um fundo molecular clássico, no organismo vital romântico de Gonçalves Dias e do Grupo Maranhense, a exemplo de João Lisboa, Sotero dos Reis e Odorico Mendes.
II: “Menores do que “Os Timbiras” e “I-Juca-Pirama”, as outras poesias indianistas de Gonçalves Dias... dão sempre do selvagem uma ideia alta e pura... Afinal, o que Gonçalves Dias deu de mais aos índios foi apenas a polidez, a elegância moral e intelectual. Entrará, certamente, em seu indianismo aquela já apontada vontade de elevar a raça de que, em parte, descendia, de que descendia, em parte, o povo brasileiro; isto há de ter influído nessa misteriosa elaboração subconsciente, a inspiração; mas à revelia do poeta, não perturbando em nada a espontaneidade da sua ideação”76
CONTRAPONTO: Neste particular, o discurso luciano beirou e desafiou o mecanicismo, ao indicar no poeta ‘aquela já apontada vontade de elevar a raça de que, em parte, descendia’ Afora a tardia remissão à categoria ‘raça’, nunca foi projeto racional deliberado de Gonçalves Dias produzir ‘uma ideia alta e pura’, com ‘a polidez, a elegância moral e intelectual’ que lhe conferiu, ao índio, por ser, em parte, índio. Se assim fosse, teria exaltado, de maneira equânime, o português e o africano, por ser também, mestiço quer do branco, quer do negro. Assim não fez e assim não foi o artista e pensador maranhense, bastando recordar que, ao escrever a Meditação, condenou o português, colonizador, na advocacia do africano, escravizado. Nada obstante, como falava Ignácio Rangel, todos os referidos acontecimentos históricos e sociais ecoaram no consciente e no inconsciente gonçalvinos, posto que é na ambiência psíquica que os fatos sociais e históricos são reais, repercutem e existem.
III: “Tendo falado dos portugueses, e dos índios, ter-se-á Gonçalves Dias alheado dos negros, de que também provinha, que também entravam na formação do povo brasileiro? Só lhes dedicou um poema, “A Escrava”, canto de amor e de saudade, de sofrimento e de submissão. Também em “Tabira” alude aos negros, tristes e passivos, opondo-os aos índios ávidos de liberdade:
“Vivem homens de pel’ cor da noite Neste solo, que a vida embeleza; Podem, servos, debaixo do açoite, Nênias tristes da pátria cantar.”
Esses versos, e os de “A Escrava”, parecem explicar o tal indiferentismo de Gonçalves Dias para com os negros: só os viu, só os sentiu como escravos, não penetrou no seu valor humano, não percebeu a sua importância no quadro brasileiro, não se deixou tocar pela sua ternura, pela força poética que representavam”77
CONTRAPONTO: Nada mais injusto e injustificado no argumento luciano. Dizia o inolvidável Darcy Ribeiro que a alegria do negro salvou o Brasil da tristeza, da nostalgia, do branco: o africano a redimir o português. Ninguém prefigurou mais a percepção darcyniana do que o juízo gonçalvino, escandalosamente contido nesses versos
• ‘vivem homens de pel’ cor da noite/ Neste solo, que a vida embeleza’ – que escaparam, enquanto sentido profundo, à refinada percepção da mais do que douta biógrafa, ensaísta e ficcionista.
Como se não bastasse, uma cuidadosa leitura, uma refletida interpretação de Meditação, permite entrever exatamente o contrário, na medida em que o protesto gonçalvino, agudo e pioneiro, eloquente e ressonante, condenando como nunca o universal (a Escravidão) defendeu como jamais o particular (o Escravo), exaltando-o como aquele que, a despeito do sofrimento, era a força vital e incontrastável ‘que a vida embeleza’. Se for procedente a postulação em pauta – como parece que o é – nada mais equivocado do que a conclusão da expressiva biógrafa gonçalvina, de que ele, o sensível poeta e pensador, ‘não penetrou no seu valor humano, não percebeu a sua importância no quadro brasileiro, não se deixou tocar pela sua ternura, pela força poética que representavam’. A Meditação permite, sem dúvida, interpretação, por absoluto, antagônica à luciana, sempre qualificada.
IV: Como tema propriamente artístico, como valor literário, a escravidão não fora ainda aproveitada, não inspirara nenhum poeta, não a incluira Magalhães no roteiro do romantismo que pe o seu Ensaio sobre a História da Literatura no Brasil.
É interessante que Gonçalves Dias, o cantor dos índios, é que fosse em primeiro lugar lembrar dos negros, unindo-os na sua obra, cujo caráter nacional fica assim completo, aos índios e aos portugueses.
União feita, é verdade, segundo uma hierarquia: vindo os índios em primeiro lugar, em segundo os portugueses, e por último os negros.
A estes considerou Gonçalves Dias menos em si mesmos, como homens, do que em função do Brasil, como escravos. Mais do que os indivíduos, comoveu-o a instituição”78
CONTRAPONTO: não percebeu a brilhante biógrafa de Gonçalves Dias a diferença Entre hierarquia e cronologia, por meio da qual o sábio brasileiro referendou as etnias segundo, simplesmente, a ordem temporal de ingresso na vida do caldeamento gerador do que viria a ser o Brasil. Nada mais nada menos.
O DISCURSO LUCIANO, NESTE SENTIDO FOI MUITO MAIS DE ATRIBUIÇÃO DO QUE DE SUPORTE TEXTUAL OU FACTUAL. Talvez uma leitura alternativa da Meditação sugira, ao contrário, mais: não somente que Gonçalves Dias, ‘O cantor dos índios, é que fosse em primeiro lugar lembrar dos negros’ porem, que tenha, em uma visão crítica, sistêmica e integrativa pela disjuntiva, retirado do reino das sombras o espesso véu do drama humano, vivido e presente no caldeamento da formação da gente brasileira e de sua emergência cultural, reitere-se, em que ‘ Vivem homens de pel’cor da noite / neste solo, que a vida embeleza.’
Não pode prosperar, neste sentido, a tese de que o cantor nacional vislumbrou os negros ‘menos em si mesmos como homens’ apreendendo-as em função do Brasil, como escravos, ao descura-los enquanto ‘individuais’ comovendo-se com a instituição’ da escravidão. Trata-se, sem dpuvida, de um artifpicio analítico da refinada cerebração Luciana, inválido enquanto resultado interpretativo, posto que embargou a dialética necessária, da gonçalvina condenação da escravidão enquanto eloquente advocacia dos homens, dos escravos, dos indivpiduos, que ‘Podem, servos, debaixo do açoite/ nênias tristes da pátria cantar’
Ardoroso defensor da liberdade, o abolicionista maranhense escreveu a seu amigo-irmão Alexandre Teófilo de Carvalho Leal, em 19 de janeiro de 1861: “Depois entendo que farás melhor em trabalhar só com a tua gente, tomando trabalhadores livres para o arado, e gente nossa, se a achares, quando for tão abundante a tua safra, que careças disso. Mas convém-te ser feitor dos outros? Diz lá de quantos escravos precisas! É a história do ovo de Colombo”79 foi Gonçalves Dias crítico da subelite brasileira, por tê-la como exploradora de escravos, vendo-a como parasita da escravidão, indisposto com as comendas que os negreiros ostentavam no peito e escrevendo a seu amigo Antônio Henriques Leal, em carta de 20 de dezembro de 1861: ‘Amigo, seremos alguma coisa algum dia, se os nossos vindouros valerem mais que os Fer... e Mar... de hoje”80 Assim também em correspondência dirigida a Capanema, de 25 de maio de 1857, ao criticar o estamento, sua atitude antipovo e a ausência de qualidades do corpo diplomático: “quem quer que seja é um grande tratante, incapaz de servir ofícios públicos81” “essa bandalheira me tem incomodado”82 essa canalha insigne”83 “ Felicissima canalha”84”Pobre nação onde tal gente predomina!85; “Mas não: lutamos por um lado contra os preconceitos e as pequeninas invejas da nossa pobre gente, que se esquece que é brasileira, quando julga, ou quer fazer crer que julga, que um brasileiro é incapaz de cousa alguma”86 Sim, contestador e insurrecto, protestou Gonçalves Dias contra o sentimento antipovo, antigente, antinação da antielite brasileira, a favor do escravo, do índio, do branco pobre e livre, de todos os mestiços, enfim, da descarnada gente lerasílica, como vocalizavam os senhores da vida, ‘gentinha’, ‘pé-rapada’, ‘sem eira nem beira’. Eis o posicionamento solar, meridiano, na linha do Equador, gonçalvino: “diz crédito ao Marquês d’Olinda, não obstante a nenhum conceito que me merece a nossa fidalguia”87 Com certeza, foi o poeta nacional um homem do centro para a esqueda, incompreendido pela nublada ética formalista e conservadora.
V: “Quatro dramas – Patkul e Beatriz Cenci, que já trouxera prontos para o Rio, Leonor de Mendonça e Boabdil, aqui escritos – constituem o teatros de Gonçalves Dias, todo em prosa, e inferior, como movimentação e valor cênico, a “I Juca-Pirama”.88 “sem dúvida, nada inventou, não foi um desses gênios que, pela originalidade, pela novidade das suas criações, marcam e condicionam a sua época. Ao contrário, foi fortemente influenciado pelo seu tempo”89 “De sua obra em prosa só não envelheceu a parte em que o assunto importa muito mais do que a forma – os estudos históricos e etnográficos; só esta pergurou, só esta lemos hoje com o acatamento que Gonçalves Dias merece. O resto
• artigos, trechos de romances, dramas e a própria Meditação, por vezes tão inchada – caducou, só interessa à crítica literária, vale apenas como documento de uma época. “90 “I-Juca-Pirama é a maior realização dramática de Gonçalves Dias; a única que hoje nos empolga, que não precisa de atenuantes para ser julgada”91
CONTRAPONTO: A quase sempre sóbria e ponderada estudiosa Lúcia Miguel Pereira, de repente, projetando a si mesma sem rede, colchão ou cama elástica, de trapécio a trapézio, pode ter encontrado o abismo da crítica. O procedimento argumentativo luciano não tem amparo, não encontra âncora em nenhum razoável fundamento metodológico, ao impugnar e condenar, em bloco, todo o teatro gonçalvino, a rigor, sem alguma sustentável análise, sem qualquer convicente demonstração, partindo e chegando aepnas a si mesma, no exercício desabrido da subjetividade.
Na negativa do conjunto do teatro de Gonçalves Dias residiu, de inequívoca maneira, o magno desacerto de lúcia Miguel Pereira, quase sempre procedente. O que de melhor o teatro brasileiro produziu no século XX, em matéria de autoria, crítica, atuação, história, direção e estabelecimento de um cânone, proclamou que o escritor maranhense teatrólogo foi de estirpe clássica, reconhecendo o movimento onde aquela vislumbrou a monotonia. Assim falaram Zbignieu Marian de Bienbinski, Décio de Almeida Prado, Sábato Magaldi, Marlene de Castro Correia e , entre outros, José Maria Reis Perdigão, festejando, em nome de todos, a excepcional qualidade do texto de Leonor de Mendonça. 92
Quanto a ser “I Juca Pirama” o que de mais significativo produziu a dramaturgia gonçalvina, a consideração quiçá pudesse resultar melhor posta, se se a redefinisse nos seguintes termos: “I- Juca-Pirama” é um testemunho esplendente da superior arquitetura da poesia dramática de Gonçalves Dias, possível, tanto quanto passagens de Os Timbiras, em virtude das qualidades gerais de seu profundo domínio da substância e da técnica teatrais.
No tocante à ideia Luciana de que o artista e pensador maranhense ‘nada inventou’, uma única reparação basta, em grau mínimo de apelação por constituir uma pequena ressalva, a ecidenciar que a montanha não pode parir o rato: ora, Gonçalves Dias ‘nada inventou’, a não ser o humanismo brasileiro, sua consciência reclamante de educação reivindicante de cultura, a antecipar, de forma qualificada, o filósofo mexicano José Vasconcelos, em histórica e, por realizar, anunciação: por minha gente falará o espírito.
Se alguma coisa envelheceu, quanto a Gonçalves Dias, foi o juízo crpitico de Lúcia Miguel Pereira, quando, dançando sobre o abismo, subumbiu a um certo surto de passionalismo típico de Sílvio Romero, merecido pela sua expressão enquanto biógrafa, crítica e historiadora da literatura brasileira. Neste particular, o melhor de Lúcia Miguel Pereira, relativamente ao vértice de significados e de significantes do estro e do papel gonçalvinos: “ A revolução que aqui fez, foi a que fizeram Vitor Humgo em França, Garret em Portugal. Fê-la, porém, a seu modo, com os seus meios, com a sua sensibilidade de homem altamente diferenciado, de brasileiros, com elementos poéticos tirados de si e do que o rodeava”93 Ou seja: o nome disto é inventidade, no exercício de um papel correlato, corresponde ao de Vitor Hugo e ao de Almeira Garret, respectivamente, na França e em Portugal.
Eis senão quando a biógrafa do poeta maranhense, cuja característica maior foi sempre sensatez dos juízos interpretativos, ao impugnar toda a prosa gonçalvina e ao retirar o embargo apenas para a de natureza histórica e etnográfica, por ser direta, de fundo objetivo, nada retórica e sem preocupação artística, buscando ressalvos, o considerou um etnógrafo com “segurança intuitiva, por assim dizer divinatória”94 Tratou- se, todavia, absolutamente do contrário: o etnógrafo Gonçalves Dias foi laborioso, metódico, racional e reflexivo, nele existindo um substrato divinatório por ser um cientista, como Goethe, que era poeta...
De mais a mais, a percuciente ensaísta que conquistou um lugar de honra nos estudos gonçalvinos, estando para o século XX, juntamente com M. Nogueira da Silva e com Josué Montello, como esteve Antônio Henriques Leal para o século XIX – claudicou e tropeçou, em incontida queda, ao colocar no baú do ‘resto’, não somente os ‘dramas’, mas ‘a própria Meditação, para resumir o inventário. A postulação de que, com tudo o mais, o referido poema em prosa histórico ‘caducou, só interessa à crítica literária, vale apenas como documento de uma época ao ser ‘por vezes tão inchado’, constituiu o desacerto magno da quase sempre equilibrada Lúcia Miguel Pereira. Ora, não procede a Luciana recusa do verso bíblico, posto que descarta-lo significa, em última instância, a própria Bíblia Desconsiderar, pais verso poucos entendiam, no Brasil, tanto quanto Gonçalves Dias, que so rendia mercê ao tradutor de Homero e de Virgílio, garantindo: “Odorico metrifica como um rei”95e louvando-o como mestre do português, língua de Camões: ‘Não sei de nenhum, nem em Portugal, nem no Brasil, que o escreva melhor96 por tudo quanto revelou – da dominação política e da estratificação social – a Meditação, à revelia da insustentável imputação de inchaço, ao reverso, foi concisa, havendo quem a tenha como “a maior desconstrução crítica jamais escrita do colonialismo português no Brasil”.97 A missão a cumprir encontrara o seu ator histórico.
O papel desempenhado por Gonçalves Dias foi o de fundador do humanismo nacional, compreendido como a geração de uma gramática simbólica para a terra e o homem brasileiros, necessitados, em sua emergência autônoma depois do 7 de setembro de 1822, da prefiguração de um destino comum, segundo uma exemplaridade humana, fomentada por uma paideia e respaldada por um escudo ético, para a perseguição e a efetivação de um outro sentido finalístico, sob o escopo de uma exaltada ambiência ecológica, posto que “Minha terra tem palmeiras/ Onde canto o sabiá”98
Erudito, dispunha Gonçalves Dias de familiaridade com o mundo das ideias, que chamava para si até mesmo na correspondência jocosa, ao correr da mão, dirigida ao amigo-irmão Alexandre Teófilo de Carvalho Leal, de 30 de novembro de 1846: “Eu estava neste dia diabolicamente exaltado; tinha muito de Rousseau, muito de Byron, e muitíssimo do choramingas Jeremias.”99 Em especial, Jean-Jacques Rousseau, o pioneiro do romantismo, há de ter aproximado o pensador maranhense da percepção de que, se era a terra sobre a qual a nação estava a ser erguida, proclamada era como paradisíaca, o homem brasileiro necessitava de um mito de fundação que o representasse, inspirasse e dirigisse o seu agir histórico, a ambos confluindo, na unidade da visão do paraíso e do bom selvagem.100
Recorde-se que, sem embargo, transitou Gonçalves Dias pelas culturas francesa e inglesa, tornando-se um germanista antecedente a Tobias Barreto e sua Escola do Recife, perfazendo o itinerário da ideia de espírito do povo, nascida, segundo J. Ferrater Mora, na França do século XVIII, do que foram participes Montesquieu, com o “espírito de uma nação”101 e Voltaire, com o “espírito de uma nação”101 e Voltaire, com o “espirito nacional ou espírito do povo.”102 Seria preciso consignar, ainda, “na ideia de Volksgeist”, como destacou Ortega y Gasset, “a possível influência da historiografia inglesa do século XVIII, especialmente a de Gilbon e Hume.”103 Então, da França e da Inglaterra, o argumento desembarcou na Alemanha, onde Hegel tornou sinônimas, em definitivo, as expressões Volksgeist (Espírito do Povo) e Nationalgeist (Espírito Nacional) 104, estabelecendo a dialética entre o singular (o espírito particular de indivíduos, grupos e comunidades) e o universal (o espírito de níveis diferenciados de povos e de nações e sua presença (ou ausência?) na consumação do Espírito Universal).105 Eis de onde Gonçalves Dias edificou, em afinidade goethiana eletiva, a visão originalmente indigenista, por ordem cronológica de ingresso no teatro da nossa história, na formação do homem brasileiro, conferindo-lhe um ethos nacional, com que acrescentasse a sua singularidade proativa dentro do Espírito Universal. Ei-lo nas “Poesias Americanas” de os Primeiros Cantos e em Os Timbiras, enfim, nos Segundos Cantos, nas “Poesias Americanas” de Últimos Cantos e, em especifico, parte destes na
"CANÇÃO DO TAMOIO"
(Natalícia)
I
“Não chores, meu filho; Não chores, que a vida É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate, Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos, Só pode exaltar.
II
“Não chores, meu filho; Não chores, que a vida É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate, Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos, Só pode exaltar.
III
O forte, o cobarde Seus feitos inveja De o ver na peleja Garboso e feroz;
E os tímidos velhos Nos graves conselhos, Curvadas as frontes, Escutam-lhe a voz!
IV
Domina, se vive; Se morre, descansa
Dos seus na lembrança, Na voz do porvir. Não cures da vida! Sê bravo, sê forte! Não fujas da morte,
Que há morte há de vir!
V
E pois que és meu filho, Meus brios reveste; Tamoio nasceste, Valente serás.
Sê duro guerreiro, Robusto, fragueiro, Brasão dos tamoios Na guerra e na paz.
VI
Teu grito de guerra Retumbe aos ouvidos D’imigos transidos Por vil comoção;
E tremam d’ouvi-lo Pior que o sibilo Das setas ligeiras, Pior que o trovão.
VII
E a mãe nessas tabas, Querendo calados Os filhos criados Na lei do terror;
Teu nome lhes diga, Que a gente inimiga Talvez não escute Sem pranto, sem dor!
VIII
Porém se a fortuna, Traindo teus passos, Te arroja nos laços Do inimigo falaz!
Na última hora Teus feitos memora, Tranquilo nos gestos,
Impávido, audaz.
IX
E cai como tronco Do raio tocado, Partido, rajado
Por larga extensão; Assim morre o forte! No passo da morte Triunfa, conquista Mais alto brasão
X
As armas ensaia, Penetra na vida: Pesada ou querida, Viver é lutar.
Se o duro combate. Os fracos abate,
Aos fortes, aos bravos Só pode exaltar!”106
Subline-se: ‘Não fujas da morte,/ Que a morte há de vir!’ A vida, em Gonçalves Dias, quanto à exemplaridade multibiográfica prefigurada, por meio do índio, para o miscigenado homem brasileiro, é sinônimo de luta, brio, peleja, brasão, combate, arrojo, audácia, força, dureza e exaltação, enquanto pilastras da antropologia filosófica nacional. A relevância do problema foi realçada por Marcel Mauss em uma pequena, mas relevante frase, pois eram “as nações, as mais avançadas das sociedades conhecidas,”107 cercadas de proativas energias conformadoras do agir histórico: “As expressões ‘coerção’, ‘força’, ‘autoridade’ podem ter sido usadas no passado e possuem seu valor, mas essa noção da expectativa coletiva é, a meu ver, uma das mais essenciais sobre as quais devemos trabalhar. Não conheço outra noção geradora de direito e economia. ‘Espero que’ é a própria definição de todo ato de natureza coletiva”108 O sentido da fundação do humanismo brasileiro pelo artista e pensador maranhense, sem dúvida, residiu na indicação construtiva de uma multisubjetividade dotada de ‘expectativa coletiva’ , necessária e suficiente para a plural formulação de um ‘espero que’. Do espaço mítico para o processo histórico: eis o projeto nacional gonçalvino.
No coração do sensível problema do ser nacional, do caráter nacional, a postura do pensador Tímbira foi, com certeza, de matiz anticolonialista e de expressão anti- imperialista, cuja definição, em última instância, compreendeu a eleição da arquitetura de uma paideia, isto é, de um ideal ético e pedagógico de formação do homem brasileiro, como caminho inclusivo e solidário de mudança, da sociedade genocida (do indígena) e escravista (do africano). Paideia que conduziu Gonçalves Dias a ser o precursor, enquanto advogado de um Brasil melhor, da mudança pela educação, da emancipação pela cultura, prefigurando Anísio Teixeira, Fernando Azevedo, Florestan Fernandes, Paulo Freire e Darcy Ribeiro. Estadista da educação que esteve, comissionado pelo Imperador Dom Pedro II, a estudar, em 1851, no Norte do Brasil, o sistema das províncias de instrução escolar e profissional e a percorrer, em 1854, países da Europa, para examinar como organizavam a escola pública e seus métodos pedagógicos, coisa que faria, de novo, em 1856, especificamente, quanto à Bélgica. Em 1861, por designação do presidente da Província do Amazonas, Manuel Clementino Carneiro da Cunha, visitou escolas na região do Solimões, avançando do Brasil para o Peru.
Não por acaso, mas por perceber a educação como o neurotransmissor social do direito à esperança, Gonçalves Dias confidenciou a Antônio Henriques Leal, o Plutarco Maranhense, que entre as obras previstas para urgente edição de sua lavra, além do relatório das atividades desenvolvidas pela Expedição Científica, da apresentação integral dos cantos de Os Timbiras e da História dos Jesuítas, se encontrava a vinda a lume dos “seus estudos sobre instrução pública”109 Compreendeu o artista e pensador maranhense, com certeza, ser a difusão democrática da educação e da cultura condição de existência, consciente, necessariamente consciente, livre e emancipada, do homem brasileiro, razão de ser do humanismo nacional. Os estudos pedagógicos gonçalvinos foram retratados por Nogueira da Silva da seguinte forma: “São, ao todo, quantos relatórios, acuradíssimos relatórios”110. E mais: eram “trabalhos minuciosos e inteligentes”111, que mereceram de Joaquim Manuel de Macedo a consideração de que configuravam “documentos de uma transcendência incontestável,”112 os quais “formavam um grosso volume”113 entregue ao Ministério do Império. Deve ser considerada questão de honra e de Estado a busca permanente, até o seu efetivo encontro, das obras desaparecidas de Antônio Gonçalves Dias.
Compreendeu-se, em razão do exposto, o motivo por que o pensador maranhense, à semelhança de Victor Hugo, na França e de Alexandre Herculano e Almeida Garrett, em Portugal, em certo tempo, pretendeu percorrer os caminhos da atividade política: para avançar as bandeiras da consciência, da educação e da cultura, na perseguição da efetivação do humanismo nacional. Foi uma viagem do encanto para o desencanto, posto que, muito jovem, proclamou: “O que nos há de valer é a política.”114 O correr da carruagem do tempo, todavia, revelou ao pensador maranhense que a sua agenda civilizatória não correspondência à opção do estamento brasileiro pela barbárie, pela exclusão, enfim, pelo desconhecimento da humanidade do outro, como legítimo merecedor da necessária promoção social. Eis que Gonçalves Dias considerou a hipótese de ser candidato a deputado, se sobrevivente o círculo de Caxias, onde “poderia ter votos de saquarema e dos liberais em maioria mais que bastante, – e votos não de partido mas de afeição ou de simpatia!115 De repente, na contramarcha das expectativas, o possível candidato ponderou: “O Brasil parece-me que se aproxima de uma crise, e muito breve e eu não lhe vejo remédio. Que vou fazer às Câmaras?”116 No juízo do poeta e humanista brasileiro, no parlamento estaria cercado “de gente que não vale dez réis de cominhos.”117 Tornara-se visível a sub ou antielite cartorial e patrimonialista brasileira.
Analista político consumado, o senso crítico gonçalvino feriu a corda do círculo de ferro do poder do Brasil, criticando-o pela ausência de ideias, programas e projetos, exceto o do poder pelo poder, no artifício do dissídio e da conciliação pelo alto, cujo espírito, máscaras ao chão, revelou: “A Liga é uma armadilha, uma igrejinha bem arranjada: o que for mais esperto será Padre, o que for menos será sacristão, outro sineiro etc. e por fim os devotos ouvirão missa. A conciliação não pode ser duradoura, por que os ódios são antigos, e passaram das ideias às pessoas.”118 O mandonismo personalista, fundamentado no passionalismo da agenda do contra, nunca do a favor, senão de si mesmo, mereceu reparos, quando vestido de cordeiro o lobo: “Quem acredita em conciliação de partidos? Se eles vivem, é força que hostilizem e que sejam hostilizados: do contrário perecem, e não só o que é o mais fraco, como todos que houverem”119 O pano de toureiro das facções em estado de recíproca sedução, sob escondidos punhais da traição, visando o poder pelo poder, caminhou com as pernas curtas das ambições menores: “Demais, qual é o fim da Liga? Criar deputados: criados eles a Liga se desfará por si mesma, e o Progresso, que a representa, acabará com ela”120 O império pragmático da política de resultados, em si mesma, bastava para o quase candidato à deputação geral? Ei-lo: “Sendo assim, eu direi que o Progresso tem um fim, que esse fim é útil, e que se deve contender com todas as forças para o alcançar: ... apresentar homens de merecimento e probidade a homens ignorantes e imorais”121 Acreditava o poeta nacional e ator político na ação social segundo valores, combatendo pela ética e pelo mérito na política.
Atentíssimo quanto aos condicionamentos da realidade envolvente, que tornava o adesismo governista o consenso máximo de todas as retóricas e instrumentais ideologias, liberais ou conservadoras, reinantes no Brasil: “Tirante disso, não. Nada de empenhos com o governo: nada de obrigações, e de encargos para com ele, porque em último resultado, será uma sociedade leonina. O Leão distribuirá as partes, e escolherá a sua. Ora, o Leão, de que falo, é ao mesmo tempo Raposa.”122 Sucede que Gonçalves Dias estudara as ideias políticas e conhecia o pensamento de Nicolau Maquiavel, sabendo-o presente na prática eleitoral oligárquica, vigente na realidade fática nacional do Segundo Reinado, tocado por “essas máquinas eleitorais, chamadas Câmaras Municipais, que só dão sinal de vida quando acordam algum arranjo de compadres,”123 sob as bênçãos farisaicas d’“esses maus guardadores da lei.”124 O código do estamento, de donatários fechados do poder pelo poder, tornou-se incompatível com a emergência de estadista de Gonçalves Dias, cujo quadro valorativo tornara impossível, para si, “aturar desaforos a pretexto de que possa fazer alguma coisa útil a nossa terra – isso não: o pouco que posso, posso-o em toda a parte."125 Em meio à gente, ao cadinho de gente capada e sangrada, como diria mais tarde Capistrano de Abreu, o pensador maranhense sabia que a fronteira, para alguém fora do círculo de ferro, estava fechada: “eu nunca tive, o que não hei de ter nunca – família.”126 E assim foi.
Desta maneira, o estadista da consciência, da educação e da cultura como caminhos necessários da afirmação do humanismo nacional, impermeável ao garrote da prepotência mandonista, preterido e indisposto, jamais foi político parlamentar. Nas palavras de Antônio Henriques Leal, não sucumbiu Gonçalves Dias às “nossas misérias políticas,”127 descrente das legendas vazias, “reunidas por sórdidos interesses e mirando só ao poder e ao engrandecimento próprio,”128 como escreveu ao amigos, em 10 de abril de 1848: “...convence-te que no Brasil, onde quer que seja, qualquer que seja a cor da política, não passa ela nunca do individualismo, não é nunca mais do que isso!”129 Resignou-se, com ou sem razão, o poeta maranhense, a hipotecar solidariedade a seu amigo Dom Pedro II: “tem virtudes que o fazem um homem estimável, tem qualidades de um rei literato.”130 Contudo, jamais renunciou ao ideal de construção de uma paideia131 para o miscigenado homem brasileiro, tornando a sua sacrificada existência um serviço à construção de uma qualificada obra, na qual o ser nacional 132, o caráter nacional,133 em consciência, em educação e em cultura, fosse o definitivo sinal autônomo e emancipatório, de que “um povo livre surge na história.”134 Eis Gonçalves Dias, fundador do humanismo brasileiro com o Grupo Maranhense: Odorico Mendes, Gomes de Souza, Sotero dos Reis, João Lisboa, Cândido Mendes, Antônio Henriques Leal, Luís Antônio Vieira da Silva, César Augusto Marques e outros, mais outros e outros mais, que desafiam a antinação de ainda agora, sedenta de sangue e mais sangue, a tornar-se uma civilização solidária, encontrada consigo mesma, por meio da consciência, da educação135 e da cultura, enquanto autêntico destino, a cantar: ''Minha terra tem palmeiras/Onde canta o sabiá!''
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