Para o ministro, conflito entre Judiciário e Executivo não convém ao país, que ‘precisa de bombeiros, não de incendiários’…
O ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal (STF), fez críticas diretas ao colega e decano da Corte, ministro Celso de Mello. Ele afirmou, nesta segunda-feira (1/6) ao JOTA, que não concorda “em nada” com a mensagem do colega veiculada no fim de semana. No domingo, circulou mensagem de Celso de Mello em que ele criticava a postura de apoiadores do governo federal.
“Precisamos não de incendiários, mas de bombeiros. E não concordo em nada com o que veiculado pelo ministro Celso de Mello” – afirmou. Acrescentando ainda que “Não bastasse a crise de saúde, a crise econômica, nós estamos tendo ante os incendiários uma crise institucional. Não convém ao país que haja esse conflito entre o Judiciário, mais especificamente o Supremo, e o Executivo. Nós devemos cerrar fileiras no combate às crises a que me referi. E devemos, portanto, juntar forças nesse sentido. “, disse Marco Aurélio.
O ministro afirmou que todo aspecto extremado, toda veiculação de ideias extremadas “é perniciosa, muito ruim e em nada contribui para a almejada paz social”. Para ele, “evidentemente isso tem repercussão internacional e aí o estrangeiro perde a confiança no país. Vamos pensar como nação, como um grande todo, deixando as paixões condenáveis em segundo lugar.”
No domingo, a imprensa noticiou mensagem de Celso comparando “guardadas as devidas proporções” a defesa de intervenção militar por “bolsonaristas” à implantação do regime totalitário por Hitler depois de chegar ao poder por meios democráticos, rompendo a Constituição de Weimar. O decano informou, por meio da assessoria de imprensa, se tratar de “manifestação exclusivamente pessoal”.
Marco Aurélio defendeu a postura da Polícia Militar neste domingo (31/5) na Avenida Paulista. Ele se disse preocupado com o que aconteceu no país no fim de semana, se referindo aos atos de manifestantes pró-democracia e dos favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro. “Atuou a polícia repressiva, que é a nossa Polícia Militar. E mesmo assim ainda surgem aqueles que a criticam, não percebendo há de se atuar se necessário for inclusive mediante um ato de força. E a polícia, a meu ver, foi comedida”, afirmou.
FELIPE RECONDO – Diretor de Conteúdo e sócio-fundador do JOTA. Autor de “Tanques e Togas – O STF e a Ditadura Militar” e de “Os Onze – O STF, seus bastidores e suas crises”, ambos pela Companhia das Letras. Antes de fundar o JOTA, trabalhou nos jornais O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo, no blog do jornalista Ricardo Noblat.
ANA POMPEU – Repórter
Publicado originalmente no site JOTA, BRASÍLIA, 01/06/2020.