O alto preço da desigualdade de género
Por Kristalina Georgieva e Marie-Claude Bibeau
Kristalina Georgieva é CEO do Banco Mundial. Marie-Claude Bibeau é a ministra do Desenvolvimento Internacional e da Francofonia do Canadá
Não há dúvida de que garantir que as mulheres gozem dos mesmos direitos e oportunidades que os homens é a coisa certa a fazer do ponto de vista moral e ético. Mas também faz sentido do ponto de vista económico – vale concretamente 160 biliões de dólares.
Um novo relatório divulgado pelo Grupo do Banco Mundial, com o apoio do governo canadiano, conclui que se as mulheres tivessem os mesmos rendimentos que os homens a riqueza global aumentaria 23 620 dólares por pessoa, em média, nos 141 países estudados, num total de 160 biliões de dólares. É muito dinheiro que poderia ser usado para, por exemplo, reduzir a desigualdade, expandir a classe média e mitigar os fatores que estimulam a instabilidade social e política.
Apesar desta oportunidade evidente, as mulheres ainda representam apenas 38% da riqueza em capital humano dos seus países, definida como o valor das futuras receitas dos cidadãos adultos. Nos países pobres e de rendimentos médios-baixos, as mulheres representam apenas um terço dessa riqueza, ou até menos.
Em quase todos os países, as mulheres enfrentam barreiras sistémicas que as impedem de ter uma participação plena e igualitária na força de trabalho e, mais amplamente, na economia formal. Embora os desafios específicos enfrentados pelas mulheres variem, o imperativo fundamental é o mesmo em todos os lugares: os governos nacionais e os atores internacionais devem colocar as necessidades e as prioridades das mulheres e raparigas no centro de tudo o que fazem.
Estando atualmente à frente do G7, o Canadá comprometeu-se a garantir que a igualdade de género e a capacitação das mulheres sejam integradas em todos os temas, atividades e iniciativas do órgão. Essa abordagem reflete a Política Feminista de Assistência Internacional do Canadá, lançada no ano passado com a premissa de que garantir a igualdade de direitos e oportunidades económicas para as mulheres é a melhor maneira de erradicar a pobreza.
Refletindo esse compromisso, os participantes na reunião dos ministros das Finanças e do Desenvolvimento do G7 em Whipler, na Colúmbia Britânica, que decorreu entre 31 de maio e 2 de junho, discutiram a capacitação económica das mulheres, incluindo a revelação do potencial das adolescentes. Na semana passada, em Charlevoix, no Quebec, os líderes do G7 afirmaram esse foco. Para ter acesso a oportunidades e aos recursos necessários para ter sucesso na força de trabalho, a capacitação deve acontecer ao longo da vida de uma mulher, desde a infância até à escola e à aquisição das competências de trabalho procuradas.
Para as mulheres participarem em termos de igualdade na força de trabalho, temos de garantir primeiro que elas tenham as ferramentas certas. Isso significa garantir que todas as mulheres tenham acesso a cuidados de saúde e informação, nutrição adequada e ambientes de aprendizagem seguros e eficazes a todos os níveis. Também significa defender os direitos sexuais e reprodutivos e combater a violência sexual e baseada no género, incluindo práticas nocivas como o casamento prematuro ou forçado de crianças.
Mas isso não é suficiente para melhorar as oportunidades de emprego e os rendimentos das mulheres. Devemos também tomar medidas coletivas para reduzir a quantidade de tempo que as mulheres gastam em trabalho não remunerado; garantir que elas tenham acesso a ativos produtivos como terra, crédito, seguro e poupança, e controlo sobre os mesmos; e abordar as normas sociais restritivas que relegam as mulheres para o trabalho mal remunerado ou informal.
Políticas de apoio ao empreendedorismo das mulheres também trariam benefícios de longo alcance. Uma iniciativa que já está a avançar para esse objetivo é a Iniciativa de Financiamento de Mulheres Empreendedoras (We-Fi), uma parceria colaborativa alojada no Banco Mundial e apoiada por 14 governos, incluindo o Canadá. A We-Fi procura desbloquear milhares de milhões de dólares em financiamento para empresas detidas ou lideradas por mulheres em países em desenvolvimento.
Os enormes custos de privar as mulheres de direitos e oportunidades são arcados não apenas pelas mulheres, mas também pelas suas famílias, comunidades e por toda a economia. Ao investir em mulheres e acabar com a desigualdade de género, podemos eliminar esses custos e mudar o destino de países inteiros.
Além disso, ao considerar a capacitação económica em termos de género, podemos entender melhor como as questões que se cruzam, como a etnia, a idade, a deficiência ou a linguagem, também criam barreiras à participação económica plena e igualitária. O desmantelamento dessas barreiras traria benefícios ainda mais abrangentes.
Somente libertando todo o potencial de todas as pessoas para participarem plenamente na economia poderemos fortalecer o crescimento, eliminar a pobreza e responder de maneira eficaz aos crescentes desafios globais, dos conflitos às mudanças climáticas. A reunião do G7 representa uma importante oportunidade para dar passos concretos nesse sentido.
Kristalina Georgieva é CEO do Banco Mundial. Marie-Claude Bibeau é a ministra do Desenvolvimento Internacional e da Francofonia do Canadá
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