Velhos são os trapos
Por Leonídio Paulo Ferreira
Do jornal Diário de Notícias (Portugal)
John Kennedy tinha 43 anos quando tomou posse e continua a figurar nos livros de história como o mais jovem presidente eleito dos Estados Unidos. Por seu lado, Ronald Reagan chegou à Casa Branca prestes a completar 70 anos e é até hoje o recordista como presidente mais velho. Do que se sabe da saúde de ambos é que Kennedy sofria de dores tremendas nas costas, a ponto de o impedirem de andar e ter de ser fortemente medicado, e que Reagan era um poço de saúde, capaz de montar a cavalo mesmo septuagenário.
Kennedy ocultou os problemas de saúde. Foram os historiadores já depois do seu assassínio em 1963 que pouco a pouco foram descobrindo a fragilidade do mítico presidente. Reagan, pelo contrário, apostou na transparência, divulgando os relatórios médicos antes e depois de ser eleito. Chegou a ser alvejado logo no início do primeiro mandato, mas foi operado e recuperou.
Nestas presidenciais americanas enfrentam-se uma mulher de 69 anos e um homem de 70. Hillary, se for eleita, quase empatará com Reagan. Trump, se vencer, será o novo recordista. É, pois, natural que se fale de saúde. E os candidatos terão de ser os primeiros a perceber que a regra da transparência, à maneira de Reagan (mais tarde diagnosticado com Alzheimer), não só funciona para ganhar confiança junto dos eleitores como serve de antídoto para campanhas especulativas.
Quanto ao eleitorado, a idade dos candidatos não pode ser vista por este como um problema. Havia alternativas mais jovens e mesmo assim nas primárias Hillary e Trump impuseram-se. No campo democrata, até chegou a ter hipóteses Bernie Sanders, que já tem 75 anos. A própria sociedade americana, como é regra no Ocidente, está a envelhecer: quando Kennedy e Reagan foram eleitos, a idade média de um americano era abaixo dos 30 anos, hoje aproxima-se dos 40.
E se nisto de idade para ser governante não há certezas nem na América nem em lado nenhum, há sempre uns belos exemplos a lembrar, como Giorgio Napolitano, que aos 87 anos teve de aceitar um segundo mandato presidencial para resolver o impasse político em Itália, ou Béji Caïd Essebsi, que hoje com 89 anos preside à Tunísia, único caso de sucesso da Primavera Árabe. Velhos são os trapos.