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Notícia

Centro de Estudos Constitucionais e de Gestão Pública

Em ” O Semeador de Rebeldias”, Ericeira celebra o centenário de Neiva Moreira

 O Semeador de Rebeldias

 

 

João Batista Ericeira é professor universitário e sócio majoritário de João Batista Ericeira Advogados Associados

 

 

Comemoramos hoje o centenário de Neiva Moreira. Nasceu em 10 de outubro de 1917, ano de marcantes acontecimentos, dentre eles, a Revolução Bolchevique, de considerável repercussão para a História da Humanidade, produziu enormes efeitos no campo dos direitos sociais, tal como fizera a Revolução Francesa na esfera dos direitos políticos. Sua geração atravessou as agruras de um mundo dividido entre o nazi-fascismo e o comunismo, embate que seria travado também nos campos de batalha da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Findada a Guerra, o Brasil ingressaria em processo de redemocratização em 1945. Caindo o Estado Novo de Vargas, procederam-se as eleições gerais. No Maranhão, ascendeu a liderança de Vitorino Freire, por conta de suas relações com o general Dutra, o condestável do Estado Novo, que se elegeu Presidente da República nas eleições daquele ano. Por aqui se inicia o ciclo de governadores eleitos sob a liderança de Vitorino. Começou com Sebastião Archer, encerrou com Newton Belo, nos anos sessenta.

As eleições de 1950, vencidas pelo vitorinista Eugênio Barros, foram questionadas pelas Oposições Coligadas, que sustentavam a vitória de seu candidato Satu Belo, ao tempo em que denunciavam a fraude eleitoral. Desencadeou-se greve geral que paralisou São Luís, despertando a atenção da opinião pública nacional. Jornalistas dos principais órgãos de imprensa foram destacados para a cobertura na “ilha rebelde”. Neiva contratado pelos Diários Associados, veio atuar em reportagens sobre os graves acontecimentos que impediam a posse de Eugênio. Em São Luís se envolveu com a causa das Oposições Coligadas. De escrita fácil e oratória arrebatada, revelou-se portador de evidentes qualidades de liderança e de capacidade de articulação. O governador de São Paulo, Adhemar de Barros, veio participar de comício das oposições, logo na chegada, situacionistas e oposicionistas se digladiaram, um tiro atingiu o operário João Evangelista de Sousa, Neiva estava a seu lado, juntamente com Adhemar. Aquela morte os transformou em ídolos dos rebelados. Elegeu-se deputado estadual com os votos da “ilha rebelde”. Contando com o apoio de Ademar consolidou o “Jornal do Povo”, principal veículo das Oposições Coligadas, de quem era cabeça e verbo. Em seguida, elegeu-se deputado federal, de 1954 a 1962, tendo por base o colégio eleitoral de São Luís. Era um verdadeiro fenômeno no combate a oligarquia vitorinista, uma das que assolou o Maranhão, por vinte anos. As manchetes do “Jornal do Povo” eram o termômetro da política estadual e reveladoras de sua presença na ilha.

O slogan do “Jornal do Povo” contra a opressão e a injustiça social, indicava claramente sua linha editorial. No expediente estavam os nomes de Reginaldo Telles e Rivadavia Neiva, o corpo de redatores congregava profissionais de expressão do nosso jornalismo como Bandeira Tribuzi e Nagib Jorge Neto. Entre os colaboradores figuravam Clodomir Milet, Lago Burnett, Amorim Parga, Dom José Delgado, Cid Carvalho, José Sarney.  Em sua redação ele exercitava a vocação do jornalismo, ensinou a muitos que por ali passaram. Aprendera trabalhando nos jornais cariocas “Diário de Notícias”, ” Diário da Noite”, Revista “O Cruzeiro”, estabelecendo amizade com jornalistas notórios, Carlos Lacerda, Carlos Castelo Branco, Odylo Costa filho.

Nas eleições de 1962, como secundarista, integrei o “Caminhão do Povo” instrumento de campanha que percorria os bairros de São Luís. Recordo do cantor e compositor João do Vale entoando paródia do mambo “Cantareira”. Os versos diziam: “Reforma Agrária vem aí, com Neiva Moreira, com ele não tem barreira, Maranhão vai progredir. Todos têm sua vez chegou a nossa também, vamos libertar o Maranhão, com o voto certo que pra nós representa, Bandeira (Tribuzi) da libertação”.  Ao meu lado, o jornalista Benito Neiva. Fazíamos a campanha para deputado federal, com os olhos em 65, Neiva era o nosso candidato a governador.

Bons tempos aqueles em que os jovens acreditavam na política, e que através dela se podia mudar o Maranhão, o Brasil e o mundo. Neiva simboliza esse tipo de política e de político que precisamos resgatar e celebrar. Por isso nunca será demais reverenciá-lo, como o sempre semeador de rebeldias.