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Desafios à teoria econômica – Por ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO, economista, professor aposentado da UFMA

 

Desafios à teoria econômica

 Por ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO

 

Depois do ‘crash’ da Bolsa Valores de Nova York, em 1929, a crise da “bolha” imobiliária foi, a partir de 2008, a mais grave já ocorrida na economia americana, com repercussões na Europa e principalmente em países da zona do euro.

Ao contrário de 1929, quando o governo e autoridades monetárias, surpreendidos pelos acontecimentos, deixaram “quebrar”, o Federal Reserve – FED, o banco central dos Estados Unidos, seguido pelos demais congêneres dos países desenvolvidos, desta vez adotou práticas heterodoxas, expansionistas, conhecidas como “Quantitative easing” ou afrouxamento monetário.

Deve ficar claro que o FED adotou essas práticas tentando estimular a retomada dos investimentos e, gerando efeito multiplicador, permitir aos governos e empresas evitarem uma nova “quebradeira”.

Na verdade, não aconteceu bem assim, porque a maior parte desses recursos gerados pela política monetária expansionista acabou ficando em poder dos próprios bancos, que atualmente enfrentam dificuldades a encontrar uma “porta de saída”.

Até então a ciência econômica era balizada pela teoria da escola clássica, provinda da Academia ao mercado, com Adam Smith e David Ricardo, decorrendo as correntes ortodoxa de John Stuart Mill e a neoclássica, de Léon Walras, William Stanley Jevons e Alfred Marshall, que gerou John Maynard Keynes, de quem provieram os neo e pós keynesianos; essa heterodoxia praticada pelo FED, a partir de 2008, vem de Karl Marx e seus descendentes “socialistas-científicos matizados de hoje”.

Cumpre salientar que essas práticas heterodoxas contrariaram pressupostos básicos da teoria econômica e do mercado: o conceito de moeda e crédito, e de meios de pagamento e sua devida proporção em relação aos bens e serviços disponíveis; a Teoria quantitativa da moeda e sua velocidade de circulação; a Base monetária e seu multiplicador.

Como os efeitos dessas práticas ainda são nebulosos e não estão amparados na teoria econômica existente, das duas uma: ou estamos aplicando mal os modelos econométricos disponíveis ou precisamos de novas formulações que amparem essa “nova ordem econômica”, e devem provir, insisto, da Academia ao mercado e não vice-versa.

A moeda na sua versão mais moderna é fiduciária e tem emissão privativa do banco central considerado seu guardião; ainda desempenha as funções básicas de intermediária de trocas, medida de valor e reserva de valor.

Agora, a tecnologia chegou principalmente às transações financeiras: criaram as chamadas criptomoedas, a moeda virtual, sem desempenhar a contento a função básica de reserva de valor, pois não tem lastro e sua liquidez sofre lentidão, isto sem falar na insegurança dos que investem, pois o mercado não tem nenhuma regulação por parte das autoridades competentes.

O economista André Lara Resende, em artigo “A moeda do futuro”, publicado no suplemento “Eu & Fim de semana”, do jornal Valor econômico, edição de 27/04/2018, acredita que: “Com a revolução digital, o sistema financeiro se sofistica, todos os tipos de ativos ficam mais líquidos e a distinção entre crédito e moeda perde sua importância”.

Essa poderá ser uma nova realidade do mercado, mas que, antes de mais nada, apesar da heterodoxia reinante nos bancos centrais, deveria ser compatibilizada em Teoria econômica, pela Academia, face aos seus pressupostos básicos citados e de Valor e Preço, para efeito da indispensável regulação pelas autoridades monetárias competentes.

 

Economista. Membro da ACL, do IWA e da Comunidade ELOS. Fundador da ALL

 

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