Publicado por Joaquim Itapary em "O Estado do Maranhão", caderno alternativo, página 8, em 17/07/2014.
Confesso haver cometido o grave pecado do otimismo. Mas, bem a tempo, arrependi-me da imprudente apostasia da minha fé no pessimismo como o princípio mais adequado à avaliação de anúncios de progresso para o Maranhão. Estou curado, porém. Graças a Deus, livrei-me de ilusões de quatro anos e voltei a professar o pessimismo responsável, politicamente correto.
Explico-me: em 15 de janeiro do já longínquo 2010, quando vi na tevê as imagens de Lula e Dilma, entre risonhas “autoridades civis, militares e eclesiásticas”- há meio século, sempre as mesmas -, lançarem a pedra fundamental da fabulosa Refinaria Premium, nos descampados de Bacabeiras, com a promessa de 30.000 brasileiros diretamente empregados no processamento de 600.000 barris/dia de óleo bruto, meu natural pessimismo sofreu terrível baque. Rendi-me ao otimismo e repeti, a meus botões, a frase de Adhemar de Barros, em suas campanhaspresidenciais: “Desta vez, vamos!”
Ora, havendo participado, ainda jovem, haver empunhado a bandeira de “O petróleo é nosso”, em campanha contra a entrega de nossas riquezas a trustes internacionais, como eu desacreditaria em tal promessa tendo diante dos olhos tão vivas e convincentes imagens do petróleo a jorrar do generoso solo maranhense, em poços do miraculoso e festejado senhor Eike? Seria demasiado pessimismo; um exagero, um despautério de incredulidade. Afinal, "São sinceros os meus votos para que, nesse ano tão distante, juntos possamos ver a fuligem da refinaria toldando as alvas garças dos Perís".
Áquila encenação era parte de um Plano de Aceleração do Crescimento nacional, o famigerado PAC. Então, ainda não nos advertíramos de que o fenômeno da aceleração tanto pode darse para frente quanto para trás. Também, mal suspeitávamos de que aquela comédia de mau gosto fosse mais uma vigarice, um estelionato eleitoral perpetrado às escâncaras com o único e exclusivo objetivo de comprar votos incautos para a eleição daquela arrogância em saias, a candidata que substituiria o mentecapto doutor honorário da Universidade de Coimbra, e obter o silêncio de todos nós diante do sistemático desmonte da economia brasileira, do enxovalhamento da dignidade nacional, do aparelhamento político do Estado e das falcatruas governamentais.
Assim, seguimos cegados pelo otimismo até hoje; quando, tendo-se passado quatro anos daquelas cenas de logro dos pobres coiozinhos maranhenses, a verdade veio à tona, na cabal confirmação das palavras do Evangelho: Nada há oculto que não venha a ser revelado!
Hoje, o projeto da Refinaria Premium, que nos encheu de esperanças, vaticínio de um futuro feliz e risonho para os deserdados filhos destes maranhões, sonho de uma terra mais rica e de um povo menos pobre acalentado durante séculos, não passa de verdadeiro Calote Premium em todos quantos nos deixamos ludibriar pela farsa petista. Retomando a postura pessimista, adotada desde 1970, da qual jamais me arrependera, leio na mídia que o 10º Balanço do PAC dilata essa quimera para além do ano de 2029. Isso mesmo: daqui a mais 19 ou 20 anos! Até lá, esforcemo-nos para sobreviver, com as Graças de Deus, neste proceloso mar de desenganos. E ainda há tolos e ingênuos que acreditam em programas de aceleração de crescimento. Imagine-se: duas décadas para construir-se uma refinaria. Isso é que é aceleração? Ora bolas!
Eu, de minha parte, me cuido como posso para chegar aos 93 de idade. Evidente, sendo esse o desígnio de Deus, até 2029 ou 2030, todos os maranhenses minha geração, otimistas ou pessimistas, estarão também perfeitamente macróbios. São sinceros os meus votos para que, nesse ano tão distante, juntos possamos ver a fuligem da refinaria toldando as alvas garças dos Perís. Será uma cena, no mínimo, patética; patetas que fomos todos nós.
Todavia, sem abandonar jamais o pessimismo.
jitapary@uol.com.br