Publicado por Luiz Flávio Gomes em JusBrasil
Desde a origem do mundo (escrevia o maranhense João Francisco Lisboa – 1812-1863, no Jornal de Timon), “o bem e o mal, em luta incessante e permanente, pleiteiam o seu domínio. Sem dúvida, os dois princípios opostos, inerentes à natureza do homem [do humano], andam sempre com ele de companhia: mas segundo as resistências e obstáculos, o favor e indulgência que encontram, ora prepondera o mal, ora o bem”. Nossa indulgência aos políticos e seus corruptores favorece a vitória do mal.
A edição Veja de 10/9/14: 13 e 59 e ss., pela milionésima vez na nossa vida social repugnante (da violência e da corrupção), vem comprovar que a história da política e dos políticos brasileiros (está cada vez mais difícil achar exceções) confirma a vitória do mal vil e abominável, desprezível em todos os seus aspectos; a corrupção promovida desde sempre na Petrobrás virou esgoto a céu aberto, pois ela estampa o lodo fermentado pelas contratações falsas, pelas licitações fraudulentas (envolvendo centenas de empresas construtoras, bancos etc.); é o mundo da baixeza, da mais deplorável vigarice estabelecida entre políticos e agentes econômicos e financeiros, produto de uma degradação moral sem peias, que faz da corrupção um meio de ilícito de vida, uma forma de enriquecimento inescrupuloso, dotado de toda imoralidade que se possa canalizar ao campo dos negócios; é na política e nos políticos brasileiros, assim como nos seus desqualificados corruptores, essa classe invisível para a esfera da punibilidade, que habita toda a casta dos vícios mais degradantes que possam ser imaginados no planeta das fraudes; são defeitos morais introjetados na consciência mais profunda dos humanos imperfeitos e gananciosos, que geram “tormento inevitável nos ânimos generosos que os cegos caprichos do acaso designaram para espectadores destas cenas de opróbio e de dor” (Lisboa, Jornal de Timon, p. 34).
A edição do semanário citado revela as informações bombásticas de um ex-diretor da Petrobras, que afirmou que esta gigante do ouro negro, que a natureza tão prodigamente beneficiou o Brasil, foi, pela enésima vez, usada como instrumento de corrupção “para canalizar recursos para as campanhas de três partidos e dar dinheiro a uma fileira de políticos [inescrupulosos e inimigos da nação] que inclui três governadores, seis senadores, um ministro e pelo menos 25 deputados federais. O ex-diretor disse ainda que a compra da refinaria de Pasadena foi usada para fazer caixa dois para campanhas eleitorais e premiar com propina alguns dos participantes do negócio”.
O obscuro, atrasado, espoliador e parasitário canto do mundo que habitamos, mais visível pelas suas excrescências e vulgaridades que pela decência e o progresso da humanidade, não escapou até hoje da sorte daqueles que se julgam infelizes e impotentes. Toda a história do país, que já conta com mais de cinco doloridos séculos, incluindo especialmente a tenebrosa época que nos coube atravessar, vem marcada, na ambiência pública e privada (com destaque para aquela), pela preponderância do mal, seja o decorrente da violência, da expropriação, da espoliação, do extermínio e dos genocídios, seja o consequente das mais ignóbeis fraudes e vilanias germinadoras do enriquecimento sem causa, que aparecem em narrativas midiáticas tendencialmente infinitas.