Senhor Governador Eleito, Flávio Dino,
Senhor Presidente da Academia Maranhense de Letras, Benedito Buzar,
Senhor Presidente da Seccional da OAB/ Maranhão, Mário Macieira,
Magnífico Reitor da Universidade Federal do Maranhão, Professor Natalino Salgado,
Senhor Presidente da Academia Maranhense de Letras Jurídicas, Raimundo Marques,
Por delegação de Vossa Excelência, assomo a esta tribuna para proferir a oração de recepção ao confrade Sálvio Dino, recém-empossado neste sodalício. Faço com a maior satisfação e a consciência do encargo de registrar para a História a relevância deste fato para os anais da nossa instituição. Conheci o novo ocupante da cadeira nº 19, patroneada pelo jurista Raymundo de Araújo Castro, em uma academia, a Praça João Lisboa, em meados dos anos sessenta. Ele, um jovem deputado eleito pelo PDC de Franco Montoro e Antenor Bogéa. Eu, um adolescente, secundarista, sedento de saber e conhecer o mundo, frequentava as suas rodas, onde muito aprendi de filosofia, de poesia e prosa. Uma delas chamava-se Clube do Urucuzeiro, mencionada por Sálvio no seu discurso na Academia Maranhense de Letras. Nela pontificava nosso representante na Câmara Municipal, José Mário Santos, inteligência fulgurante, inexcedível em argumentos dialéticos. Ali se discutia o Maranhão, o Brasil e o mundo, que tínhamos a pretensão de mudar no verdor dos anos e nos arroubos do idealismo.
Nossa bancada na Assembleia Legislativa do Estado compunha-se dos Deputados Benedito Buzar, Ricardo Bogéa e Sálvio Dino, o primeiro do Partido Social Progressista – PSP; os dois últimos do Partido Democrata Cristão – PDC. Os três por nós avaliados como comprometidos com o nacionalismo e a justiça social, portanto, representantes da esquerda, por muitos havidos como comunistas, em uma época em que essa condição era discriminada, alvo de preconceitos.
Sálvio, iniciado na carreira jornalística como revisor e repórter dos Diários Associados, atuou em júris populares, um dos mais famosos, na acusação do assassinato do jornalista Othelino Nova Alves. Portador de oratória vibrante, elegeu-se vereador em 1954 e deputado estadual em 1962. Filho de juiz, poderia ter ingressado na carreira da magistratura, com as suas garantias, mas optou pelas tribunas populares, pelo exercício de cargos eletivos, onde com generosidade, dedicou-se as causas dos mais humildes, dos lavradores, focando sempre na sua região, e em Grajaú, sua terra natal, de quem é tomado de enorme paixão.
Desde aqueles idos da academia popular da Praça João Lisboa, nossos caminhos se cruzaram em várias oportunidades. No Conselho Editorial da Revista da OAB, que integrávamos por designação de Raimundo Marques, em que a sua obstinação e as amizades pessoais, garantiam sempre uma nova edição daquela publicação. Agia sempre com paixão e determinação, como é do seu estilo.
No exercício da advocacia, nos sertões do Maranhão, eram frequentes os nossos encontros nos hotéis em que compartilhávamos papos de política, história e literatura. No desempenho profissional em Grajaú, convidou-me para compor o quadro da Academia Grajauense de Letras que fundou e atualmente presidi. Por não residir na cidade dela não faço parte. Mas o ajudei a fundá-la, e nas intensas atividades por ele desenvolvidas nas festividades comemorativas do bicentenário da cidade, como sempre, com obstinação e paixão. Aliás, trata-se de um semeador de academias, dentre elas, a Academia Imperatrizense de Letras. Admitido na Academia Ludovicense de Letras, brevemente nela ingressará. Presidiu, por dois mandatos, a Associação dos Municípios da Região Tocantina – AMRT e Associação dos Municípios do Sul do Maranhão – AMSUL.
Posso afirmar que Sálvio não vê as academias como torres de marfim, aquelas em que os seus ocupantes cuidam apenas da forma estética para gaudio pessoal e cultivo de pretensa imortalidade. Não, ele as vê, como a evolução da aristocrática de Platão, passando pelas dos mosteiros medievais, pela moderna francesa, até a versão atual integrada à sociedade onde foi constituída, pronta a servi-la.
As academias por ele plantadas nos sertões do Maranhão foram movidas pelo sentimento generoso de socializar a cultura com o seu povo. Eis uma diretriz para a política cultural do nosso Estado. Da Academia da João Lisboa até esta noite, deu-se extensa trajetória, mesmo se sabendo que a arte é longa e a vida é breve. De passagem, cito algumas referências bibliográficas do empossando:
a) contos: Nas barrancas do Tocantins (1981).
b) poesia: Semeando manhãs (1985); Luzia, quase uma lenda de amor (1990).
c) estudos biográficos: Quem passar por João Lisboa (1989); Clarindo Santiago: o poeta maranhense desaparecido no rio Tocantins (1997).
É este o homem de letras que ora recebemos em nossa confraria. Ele a engrandece, e tenho certeza, será por ela engrandecido.