CECGP

CENTRO DE ESTUDOS CONSTITUCIONAIS E DE GESTÃO PÚBLICA

CECGP articula suas tarefas de pesquisa em torno de Programas de Pesquisa em que se integram pesquisadores, pós-doutores provenientes de diferentes países.

Retórica populista de “ricos contra pobres” é uma “carta de seguro” ou a escolha de um “bode expiatório” para problemas econômicos à vista…

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Haverá sempre um culpado para a ineficiência governamental…

O discurso demonstra que está aberta a temporada de caça aos “bodes expiatórios”…

 Com uma campanha vitoriosa voltada aos fundamentos democráticos e à defesa das instituições, o terceiro mandato do presidente Lula tem início sem clareza na agenda econômica para o país. A economia foi deixada em segundo plano, em decisão estratégica para não atrapalhar uma eleição difícil. Agora, instalado no Planalto, o presidente se sente à vontade para falar o que pensa sobre diversos temas econômicos, sem esconder recaídas populistas que caracterizaram gestões passadas do PT, à semelhança do populismo que grassa em outros países que atravessam crises profundas em sua economia. Aqui, como se jamais tivesse ocupado o cargo, nem o seu partido tivesse permanecido 13 anos no poder federal, Lula não hesita em voltar ao discurso divisionista de sempre: ele estaria ao lado do povo pobre, enquanto “os outros” seriam a parcela rica que se põe como obstáculo ao desenvolvimento nacional.

No discurso de posse de Aloizio Mercadante no BNDES, Lula fez uso da palavra para atacar o Banco Central, pelo alta patamar da taxa Selic, de juros básicos. De fato, trata-se de uma das mais altas taxas de juros em vigor no planeta. O problema é a abordagem populista sem justificativa técnica, que caberia mais à área econômica do governo, especialmente aos ministros Fernando Haddad e Simone Tebet. Ao mirar o BC e sua autonomia – implantada justamente como escudo aos casuísmos políticos – Lula promove instabilidade que não se resume ao mercado financeiro, e muito menos ao mundo dos ricos, do qual o presidente da República, aliás, faz parte. A instabilidade econômica decorrente de falas infelizes e de atos temerários de gestão, infelizmente, é recorrente no Brasil, com raras exceções.

Se o objetivo do governo é estimular a cobrança, pela sociedade, sobre os juros altos que inibem o crescimento, é de se avaliar se o melhor caminho seria a retórica presidencial. “A iniciativa privada precisa voltar a investir, e só vai fazer se tiver demanda, ou se o poder público incentivar”, disse Lula. Integrantes do governo defenderam a autonomia do BC, amenizando o tom das declarações presidenciais e afirmando que as regras de autonomia continuarão mantidas. Mas os panos quentes há pouco mais de um mês de mandato apenas reforçam a percepção de que a linguagem populista não saiu de Brasília, mudou de lado.

As projeções para a inflação este ano subiram pela oitava vez consecutiva, sinalizando um período de dificuldades para o novo governo – mas sobretudo para os cidadãos brasileiros. Lula sabe que não será fácil a travessia. E parece estar escolhendo alvos para justificar problemas adiante. Assim como talvez deseje preservar o cenário da dicotomia entre injustiçados e redentores, do mesmo modo que semeado pelos bolsonaristas.

Qualquer governo deve governar para todos, sem distinguir torcidas nem vilões. Ao qualificar a invasão aos Três Poderes como atos golpistas de ricos que perderam as eleições, Lula se afasta de uma parcela imensa da população, que não votou no PT, não é rica, nem participou da invasão aos prédios públicos na capital federal.

Se governar verdadeiramente para o povo e baixar o volume populista, a agenda é extensa em problemas, muitos urgentes, e outros tantos, estruturais, que demandam menos falatório e mais decisão. Do presidente e de seus ministros, alçados ao poder para trabalhar pelo país.

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Publicado originalmente em 07/02/2023 por https://jc.ne10.uol.com.br/opiniao/editorial/2023/02/15175086

 

 

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