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Notícia

Centro de Estudos Constitucionais e de Gestão Pública

SÃO LUÍS, 412 ANOS! O que falta para a capital maranhense?! – Por Sergio Tamer

São Luís: em busca do tempo perdido…

Por Sergio Tamer

Poucas cidades brasileiras, especialmente dentre suas capitais, tem uma história tão marcadamente vinculada à própria história do nascimento do Brasil. Por estas paragens, no início do século 17, holandeses e franceses buscavam retirar de Portugal uma parte do seu território, fruto do achamento de Cabral (1.500) e do Tratado de Tordesilhas (1.494). E de tanto bordejarem pelo vasto litoral sul-americano teve êxito momentâneo a expedição de Daniel de La Touche que, saindo de Cancale, na França, fincou por aqui as bases da França Equinocial. Antes, os franceses haviam fundado a França Antártica no Rio de Janeiro (1.555), colônia que durou cerca de quinze anos.

Essa segunda colônia francesa denominada “França Equinocial”, cuja capital era a cidade de São Luís em homenagem ao rei e ao santo patrono da França, recebeu frades capuchinhos (franciscanos) que aqui rezaram a primeira missa. Em três anos, o território francês se expandiu para os atuais estados do Pará, Amapá e Tocantins. Jerônimo de Albuquerque e Alexandre de Moura, todavia, ao reunirem muitos soldados luso-espanhóis e indígenas, e após inúmeras batalhas, em especial a de Guaxenduba, conseguiram expulsar definitivamente os franceses em 1615, chamados pelos indígenas do Maranhão de “papagaios-amarelos” por serem “louros e muito tagarelas”…O sonho francês em solo maranhense, como se vê, durou somente três anos e nenhum vestígio de construção deixou daquela época. Mas os franceses jamais desistiram de fixar uma colônia na América do Sul, conquista finalmente exitosa no lugar que é hoje a Guiana Francesa, mediante a fundação de Caiena em 1637.

Apontamentos no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional dão conta dos primeiros passos da cidade já àquela altura sob o amplo domínio de Portugal: “Como São Luís se desenvolveu nos séculos 18 e 19, as primeiras casas de adobe e palha foram substituídas por estruturas sólidas de pedra e cal, óleo de peixe, madeira e mármore trazidos de Portugal. Particularidades adaptadas ao clima úmido tropical foram introduzidas, como as varandas de madeira. A utilização de azulejos para revestimento do exterior se tornou uma das características mais marcantes da arquitetura de São Luís. Foi a primeira cidade dessa região do Brasil a instalar um sistema de bondes, a criar uma empresa de distribuição de água e de eletricidade, a iluminar as ruas com gás e a ter um sistema telefônico. Sua prosperidade aumentou com a criação de um número de companhias têxteis que deixaram a sua marca na forma de imponentes edifícios industriais. No entanto, no século 20, assistiu a um longo período de estagnação econômica. A expansão caiu em declínio no fim da década de 1920 e a cidade naquele momento se caracterizou no que hoje é identificado como o centro histórico de São Luís. Esse foi, de fato, um fator importante para permitir que a cidade tenha se mantido com as suas estruturas e características históricas.”

Contudo, a partir dos anos 70, com as empresas que se instalaram em função do Projeto Carajás, como a Vale do Rio Doce; a instalação da Alcoa/Alumar; a expansão do Porto do Itaqui e mais recentemente o desenvolvimento do polo agropecuário, com ênfase para o agronegócio na Região Sul do Estado, os quais refletem positivamente na economia da Capital – a Cidade quatrocentona passou a ter o seu momento de soerguimento econômico e social de forma constante, embora não esteja, ainda, em um ritmo de velocidade consentâneo com as suas necessidades e aspirações.

A nossa encantadora cidade de São Luís, assim como toda estrutura social e urbana, em qualquer lugar do mundo, necessita de cuidados constantes, reparos, obras de infraestrutura e de restaurações, transporte público eficiente, trânsito bem planejado, áreas de lazer conservadas e vigiadas contra ataques de vândalos, escolas bem cuidadas e com professores qualificados, sistema de saúde com bom atendimento populacional, mercados e feiras limpas e organizadas, assistência social a mendigos e pessoas vulneráveis, enfim, todos aqueles equipamentos urbanos e sociais que fazem uma cidade ser mais acolhedora que outras, ter uma qualidade de vida melhor para crianças, idosos e adultos. Some-se a isso o que temos de mais extraordinário a ser cultuado, fomentado e apoiado: uma cultura artística, musical, literária e folclórica como poucas no mundo.

Salve São Luís, nos seus 412 anos de existência! O que seremos no futuro muito dependerá do que for feito agora, com dedicação e espírito público, pelas gerações que comandam este primeiro quartel do novo milênio. Ou, como cantava Tribuzzi em seus versos imortalizados no Hino da Cidade: “Sonhos do futuro, glórias do passado!” …

Sergio Tamer é professor e advogado, membro da Academia Maranhense de Letras Jurídicas e da Academia Maranhense de Cultura Jurídica, Social e Política.